Em discussão golpista, Cid reclamou de disciplina de militares; entenda

Atualizado em 20 de fevereiro de 2024 às 7:31
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Foto: reprodução

Em meio às discussões sobre um possível golpe de Estado para impedir a posse do presidente Lula (PT), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), expressou seu lamento em uma mensagem enviada a seu colega de farda, o tenente-coronel Sérgio Cavaliere, por considerar que os militares permaneciam “muito disciplinados”.

A troca de mensagens, datada de 19 de novembro de 2022, foi alvo de buscas da Polícia Federal (PF), conforme informações da Folha de S.Paulo.

Na conversa, Cavaliere questionou Cid sobre a viabilidade de os militares da ativa receberem uma concessão especial para deixar a carreira, com aposentadorias proporcionais, caso os planos para reverter o resultado das eleições fossem frustrados.

“Irmao [sic], vou te pedir uma ultima [sic] parada, em meu nome e de outros amigos. Se tudo der errado, que seja concedido em caráter excepcional a saída compulsória (proporcional) àqueles que desejarem. Minha mulher é libanesa e quer que eu vá embora com ela”, escreveu Cavaliere. “Sei que é possível fazer isso antes do apagar das luzes”.

Em resposta, Mauro Cid mencionou que já havia conversado com o vice-chefe de gabinete, sem informar qual autoridade, e que a “ideia é não conceder para ninguém”.

Cavaliere expressou sua preocupação, mencionando que a não concessão do benefício seria “uma bela de uma sacanagem”.

“Se tudo descambar, nós e nossas famílias sofreremos por decisões totalmente em desacordo com o que pensamos. Temos nos mantido confiantes e disciplinados até agora. Espero que estejam preparados para lidar com o racha interno, que virá”, ressaltou.

Cid respondeu que este seria o problema: “Estamos muito disciplinados”.

PF aceita delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro - ISTOÉ Independente
Mauro Cid. Foto: reprodução

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), apontou que as conversas dos tenentes-coronéis indicavam uma “tática de investir contra militares não alinhados às iniciativas de golpe, […] tudo com o objetivo de incitar os integrantes do meio militar a se voltarem contra os comandantes que se posicionam contra o intento criminoso”.

Na mesma conversa, Cavaliere expressou descrença em relação ao esforço do PL para questionar a segurança das urnas eletrônicas anteriores a 2020. Em 19 de novembro, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, afirmou que cerca de 250 mil urnas não tinham identificação e deveriam ser desconsideradas.

Para Cavaliere, esse plano seria uma maneira de oferecer uma “saída para o inimigo que está encurralado”. A PF identificou o “inimigo” como Alexandre de Moraes. Cavaliere duvidou do sucesso do plano, alegando que Moraes estava sob muita pressão dos mandantes, sendo chantageado, e não aceitaria.

“Então a gente vai ter que ir pro pau mesmo. Infelizmente”, prosseguiu o militar. “Se pouparem o lobo podem ter problemas mais graves à frente, vc [sic] sabe disso. Voce [sic] e sua família inclusive”.

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Mauro Cid. Foto: reprodução

Vale destacar que os diálogos de Mauro Cid com outros militares e membros do governo Bolsonaro foram obtidos pela Polícia Federal na apreensão do celular do ex-ajudante de ordens da Presidência da República.

O telefone e o computador do militar continham diversas conversas e documentos que a PF utilizou como prova do planejamento de um golpe de Estado, que, no entanto, não foi executado.

Bolsonaro foi intimado para depor sobre o caso na próxima quinta-feira (22), mas a defesa solicitou o adiamento até que fosse autorizado o acesso à delação de Cid e aos materiais apreendidos. Alexandre de Moraes, contudo, rejeitou a solicitação.

Cid, por sua vez, permaneceu preso por mais de quatro meses até fechar um acordo de delação premiada com a PF. A colaboração foi homologada pelo STF, e o tenente-coronel foi libertado em 9 de setembro de 2023.

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