Em live com comentários desativados com ex-procuradora da Lava Jato, Dallagnol faz pregação bíblica. Por Marcos Danhoni

Atualizado em 24 de abril de 2021 às 10:46

Por Marcos Cesar Danhoni Neves, professor titular da Universidade Estadual de Maringá e autor do livro “Lições da Escuridão”, entre outras obras

“Os homens imaginam que está em seu poder agir injustamente e que, por consequência, é fácil ser justo. Mas isto não é exato”

(Aristóteles, Ética a Nicômaco)

Por incrível que pareça, o homem branquelo com cara infantil, de bochechas rosadas, “discípulo de Jesus, pai apaixonado, Mestre por Harvard, procurador por vocação, [cheio] de opiniões pessoais”, como consta em seu Twitter, procurador da operação Lava-Jato, que se mancomunou com o ex-juiz agora declarado ladrão pelo STF, ou suspeito no jargão jurídico (a operação “Spoofing” assim o prova), Sergio Fernando Moro, fez uma live com Thaméa Danelon, coordenadora da Lava-Jato em SP.

Deltan logo começou fazendo das suas: desativando os comentários, para não ouvir o que deveria ouvir.

Como sua consciência anda obnubilada pelos ditames da ética [não a cristã, que encontra-se hoje, e desde os tempos das Cruzadas, corrompida], melhor silenciar os mecanismos externos de seu ego e superego desativados, e deixar rolar seu imenso id, que o torna, em seu referencial egocêntrico, um Elliot Ness tupiniquim.

Depois de apresentar com pompa e circunstância Thaméa Danelon (até parece um acrônimo com Deltan Dallagnol), de olho num teleprompter improvisado, lê um complexo texto de duas linhas curriculares, muito grande para ser decorado.

Começou o discurso pelo “absurdo” da incompetência territorial, pois o STF anulou grandes operações (segundo a Danelon) de 7 anos em Curitiba, 5 anos no Rio de Janeiro. Danelon não se cansa de falar em INCOMPETÊNCIA e não em SUSPEIÇÃO do juiz ladrão. Usam, pois, a velha novilíngia e o duplipensar de George Orwell.

Deltan Dallagnol já lasca uma historieta de sua mitologia redentora, discorrendo sobre o crime de Caim, que assassinou Abel. Ou seja, a Constituição e o Estado Laico não existem, só a Bíblia e outras mitologias correlatas.

Danelon, por sua vez, com um vocabulário de, no máximo, oito palavras, vocifera sua estupefação com a decisão tomada pelo STF. O “pensamento” parece entrar num loop eterno.

Deltan diz que se fosse em Brasília ou Curitiba tudo daria na mesma, pois quer passar a ideia de que houve isenção na 13ª Vara. 

Com 15 minutos de blábláblá, e quase 1.500 espectadores sem direito a palavra (comentários desativados) quer encobrir a teoria da “árvore envenenada”, tentando nivelar Lula a Temer, e com a esperança de que Brasília pode chegar às mesmas conclusões que o Cumpliciato da Republiqueta de Curitiba.

Fala em INCOMPETÊNCIA e não em SUSPEIÇÃO.

Diz que não tem respostas materiais sobre os “crimes” cometidos. Repete seu mantra de que “não há um Estado Democrático de Direito sem um Direito Processual Eficiente”. 

Agora, baseado obviamente na matéria da jornalista lavajatista Malu Gaspar (“Anular processos não apaga a história”) insiste na tese (e “mantra”!) da “História”. Danelon quase não fala.

A cara de Danelon embranquece com a história contemporânea de Caim e Abel, reduzidos agora a ladrões de carro, receptação, e prova do crime. Não resta outra coisa à Danelon se não fazer caras e bocas, além de, por um processo natural, perder a cor em ter que passar por um mico desses devido ao “compromisso de classe”.

Com uma “live épica” de 15 minutos, termina mais este triste episódio da distopia brasileira, com frases de auto-ajuda (Orvalho de Cavalo, o filósofo dos Orifícios, como diria Altamiro Borges, adoraria estar como espectador), do tipo: “você deve continuar lutando pelo país”; “deve passar essa sua mensagem para que as pessoas não desistam do país”; “as pessoas têm que estudar, aprenderem e serem mais participativas”…

É o recado da Danelon para Deltanzinho indignado pela ferida imposta ao Cumpliciado da Republiqueta de Curitiba

Mas o grand finale é a Danelon fazendo publicidade de seu curso sobre Justiça que ela mantém lá no seu Instagram, com o conteúdo programático, com live semanal, e a possibilidade de inscrição a todo momento.

Deltan abre um largo sorriso amarelo, avermelha mais suas bochechas encantadoras e antevê que o curso de sua coleguinha será um sucesso.