Em meio ao caos e à fumaça, governo matador de pobres de Bolsonaro segue seu passo. Por Vinícius Segalla

Atualizado em 24 de julho de 2019 às 15:08
Ele se trata no Hospital Albert Einstein. Sorte a dele

Por Vinícius Segalla
Com colaboração de Priscila Oliveira

Não é que se queira culpar a imprensa, a opinião pública, a Oposição ou quem quer que seja de estar perdida na fumaça que se acortina em Brasília, produzida por este governo, com suas damares, carlos, hackers, paraíbas e afins. É tudo muito grave, tudo muito novo, muito agudo, mal cheiroso.

É só que tem mais coisa por trás, que, com hacker ou sem Ancine, não pode ficar pra trás. É que esse governo é um governo antipobre, eugenista, que vai resultar na morte de gente pobre, na piora extrema na qualidade de vida de gente pobre, efetivamente um governo pra colocar pobre no seu devido lugar, que é lá pra baixo ou morto. Isso se afirmando com base em fatos, escritos e declarações. Eles seguem abaixo.

O Sistema Único de Saúde, os pobres com câncer e as crianças em tratamento

Se o leitor não ficou sabendo, que fique sabendo agora. O Sistema Único de Saúde (SUS) vive uma das piores crises de abastecimento de medicamentos por que já passou. Medicamentos caros, de uso contínuo e para tratamento de doenças graves. Quando uma pessoa da classe média para cima precisa tomar um remédio caro e ele não consta na lista de remédios gratuitos do SUS, essa pessoa consegue acesso via plano de saúde privado, vendendo os bens materiais que possui ou recorrendo à ajuda de amigos e familiares. Já quando um pobre precisa de um remédio caro que está em falta no SUS, ele simplesmente morre.

É este o destino possível de dois milhões de pessoas atualmente no Brasil. Em maio deste ano, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) enviou uma carta ao SUS informando o que segue às autoridades federais, pontuando que se está à beira de uma crise humanitária:

  • Existe uma crise histórica no abastecimento de remédios, colocando em risco os tratamentos de pacientes do sistema público em todo o Brasil, com doenças como câncer de mama, leucemia em crianças e uma série de inflamações
  • Atualmente, dos 134 medicamentos que o Ministério da Saúde compra e distribui para os estados, 25 estão em falta ou com entregas insuficientes. Outros 18, com estoques muito baixos, que podem acabar em menos de 30 dias
  • Dois milhões de pacientes dependem desses remédios e só podem recorrer ao SUS para adquiri-los

Desde então, não houve nenhuma medida anunciada por Bolsonaro ou seu ministro da Saúde para sanar o problema. Pelo contrário. No dia 16 de julho, o governo anunciou a suspensão de contratos com sete laboratórios públicos nacionais para a produção de 18 medicamentos e uma vacina distribuídos gratuitamente pelo SUS.

Documentos revelados pelo jornal O Estado de S. Paulo apontam suspensão de projetos de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) destinados à fabricação de remédios para pacientes que sofrem de câncer e diabete e transplantados. Os laboratórios que fabricam por PDPs fornecem a preços 30% menores do que os de mercado.

Associações que representam os laboratórios públicos falam em perda anual de ao menos R$ 1 bilhão para o setor e risco de desabastecimento – mais de 30 milhões de pacientes dependem dos 19 remédios. A lista inclui alguns dos principais laboratórios: Biomanguinhos, Butantã, Bahiafarma, Tecpar, Farmanguinhos e Furp.

Isso vai além de uma declaração preconceituosa, mentirosa e infeliz da ministra Damares Alves. Isso é pior do que querer colocar o filho deputado na embaixada mais importante mantida pelo Brasil no mundo. Isso vai além de qualquer questão ideológica e está afetando neste momento a vida (e a morte) de muita gente.

No último dia 18, reportagem publicada no Portal R7, que aliás pertence à Rede Record, grupo de comunicação que se alinha a este governo, mostrou a realidade sob a cortina de fumaça e asneiras de Bolsonaro e sua equipe.

“A interrupção do tratamento medicamentoso pode acarretar na perda do órgão e até mesmo na morte do paciente, de acordo com a nefrologista Luciane Deboni, coordenadora de transplantes da Fundação Pró-Rim. Segundo a médica, s remédios que esses pacientes utilizam e são distribuídos pela rede pública são absolutamente vitais, sendo usados para que o órgão transplantado não seja rejeitado pelo corpo. Então, ficar sem o remédio pode colocar o transplante a perder. Quando é de um rim, por exemplo, há ainda a diálise para substituir a função no caso de uma rejeição. Mas e se é um transplante de coração? O paciente não sobrevive, explica Luciane.”

Já no último dia 23, reportagem do Portal G1, que aliás pertence à Rede Globo, grupo de comunicação que se alinha à maioria das políticas deste governo, revelou o drama de carne e osso (mais osso do que carne) de uma criança a depender da boa vontade deste governo em manter os pobres vivos.

A angústia de Carla Iotti Pestana da Silva, moradora de São José do Rio Pardo (SP), tem sido constante nos últimos dois meses. Este é o tempo de atraso da entrega do remédio de alto custo do filho João Pedro Iotti da Silva, de 8 anos.

Ele tem síndrome hemolítica urêmica atípica, doença rara que provoca anemia profunda e insuficiência renal e precisa tomar quatro doses do remédio Soliris por mês. Cada dose do medicamento, que é importado, custa R$ 12 mil. A família ganhou na Justiça, em 2017, o direito de receber o medicamento do governo do estado, o que não acontece desde maio.”

Que ninguém se engane. Este menino deve morrer nos próximos dias, semanas ou meses. Talquei?