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Em nome de Deus, o desprezo pelos profissionais de saúde. Por Moisés Mendes

Profissionais de saúde e internados com coronavírus. Foto: Reprodução/Blog do Moisés Mendes

Publicado originalmente no blog do autor

O poder intocável hoje no Brasil não é o dos militares e nem o da Globo. É o poder das igrejas ligadas à extrema direita. Se não fosse, o governo gaúcho não teria feito única concessão do período de bandeira preta para uma atividade não essencial.

Pela bandeira preta, tudo deveria ser fechado e só ficariam abertos serviços absolutamente essenciais. Rezar em espaços coletivos não é serviço essencial.

Quem quiser, pode rezar em casa. Mas no sábado o governador permitiu, por pressão dos pastores, que os cultos sejam realizados durante a semana de bandeira preta.

Pela concessão, as pessoas poderão se aglomerar, rezar e conversar com Deus antes de serem infectadas em missas e cultos, para depois também infectarem os parentes encerrados em casa.

Templos religiosos vão poder funcionar com limite de até 10% do teto de ocupação ou o máximo de 30 pessoas. Antes, no decreto original, não poderiam ser realizados cultos ou missas presenciais.

Alguém acredita mesmo que haverá um fiscal, na porta de cada igreja, controlando o limite de 10% ou o máximo de 30 pessoas?

É um afrouxamento político, porque o govenador é pré-candidato a presidente, desde que consiga derrubar João Doria na disputa pela vaga dentro do PSDB.

E Doria, ele sabe, é detestado pelas igrejas que asseguram o principal lastro social a Bolsonaro. Os pastores odeiam o tucano paulista. O tucano gaúcho não pode repetir o mesmo erro.

Para o tucano Eduardo Leite, Bolsonaro não deve ser criticado. Tudo o que o moço faz no Rio Grande do Sul é em nome de quatro palavras que ele repete nas entrevistas: moderação, ponderação, sensatez e sobriedade.

Quatro qualidades que dificilmente alguém conseguirá encaixar em quem cede às pressões do poder religioso para não contrariar a extrema direita.

O sujeito quer reconhecido pela sensatez, mas permite uma atividade que só existe se tiver aglomeração, num momento em que os cientistas e os profissionais da saúde pedem lockdown.

Não há moderação nem ponderação quando um governante cede a quem não quer parar de juntar gente em nome da fé e de Deus.

É muita pretensão que o afrouxamento dos controles, que despreza a exaustão e o sofrimento de profissionais da saúde, possa ser confundido com sobriedade.

Mas o diabo, que também é explorado pela extrema direita, está de olho neles.

OBRIGAÇÃO MORAL

O jornalista João Renato Jácome fez a pergunta que a maioria não se animaria a fazer, quando questionou Bolsonaro sobre o que ele teria a dizer da decisão do STJ que anulou as provas contra o filho dele.

Jácome foi demitido pela prefeitura de Rio Branco, onde trabalhava. Mas estava no evento como freelancer contratado pelo Estadão.

O Estadão só tem uma saída, uma só. Deve contratar e efetivar o repórter como correspondente no Acre, como reparação moral e reconhecimento ao jornalismo que não teme o fascismo.

Se é que o Estadão não tem medo de Bolsonaro.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

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Moisés Mendes

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