Em novos diálogos, Dallagnol diz que “Cármen Lúcia ligou pra Jungman e mandou não cumprir” decisão de soltar Lula

Atualizado em 4 de março de 2021 às 14:22
Cármen Lúcia, do STF, e Moro em visita à Associação de Proteção e Assistência aos Condenados em BH

Novos diálogos mostram a operação de guerra travada pela Lava Jato para não deixar Lula sair da prisão após decisão do desembargador Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em 7 de julho de 2018.

Favreto trabalhava como plantonista e acatou pedido de habeas corpus apresentado pelos deputados petistas Wadih Damous (RJ), Paulo Pimenta (RS) e Paulo Teixeira (SP).

A decisão durou poucas horas.

Após instâncias de Moro e de outros personagens sobre Rogério Galloro, diretor-geral da Polícia Federal, o presidente do tribunal, Thompson Flores, interveio e determinou que Lula continuasse detido.

Nas conversas que vêm a público agora, Deltan Dallagnol, chefe da Lava Jato na época, aparece articulando com os membros da “força-tarefa” para que a decisão de Favretto não fosse levada a cabo.

“O moro tem que ficar resguardado” e por isso “não pode ser imputado abuso algum”, diz Januário Paludo.

Deltan liga para Thompson, que mandou, por telefone, Galloro descumprir a ordem de Favretto. Dallagnol comemora: “É teeeeetraaaa”

Também aparece com destaque a ministra Cármen Lúcia, do STF, como tendo telefonado para Raul Jungmann, ministro da Segurança Pública.

“Carmem Lúcia ligou pra Jungman e mandou não cumprir e teria falado tb com Thompson”, afirma Dallagnol.

Cenário tá bom”.

Mais adiante, o procurador Antônio Carlos Welter comenta: “Se a Carmen resolver, melhor”.

Eles se autocongratulam após conseguir que o ex-presidente não fosse libertado.

“Parabéns pelo trabalho de todos, hoje foi de lascar. Só espero que já tenha acabado”, diz Welter.

Deltan faz piada: “Rapaz hoje envelheci uns 10 anos”.

A Folha enviou o trecho a Jungmann, que afirmou se tratar de uma “mentira”.

“Naquele dia, recebi telefonema da Cármen Lúcia e de várias pessoas que estavam preocupadas com a situação. Mas ela em nenhum momento me pediu absolutamente nada”, diz Jungmann.

“Ela é juíza. Ela sabe que eu nada poderia fazer, nem para soltar, nem para manter alguém preso. Seria um crime, seria obstrução de Justiça”.

Vai interpelar Deltan Dallagnol para que o procurador “confirme ou desminta isso”.

Os diálogos, apresentados pela defesa de Lula ao Supremo, foram extraídos de mensagens obtidas por meio da Operação Spoofing.