Em Paris, Fernández diz querer “América Latina unida”, independentemente de ideologias. Por Lúcia Müzell

Atualizado em 5 de fevereiro de 2020 às 18:20
Alberto Fernández. reprodução/Twitter – @alferdez – 10.dez.2019

Publicado originalmente pelo RFI:

Por Lúcia Müzell

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, defendeu a união da América Latina para enfrentar os desafios da globalização, independentemente das diferenças ideológicas dos governos da região. Em visita oficial a Paris, o peronista se encontrou com o francês Emmanuel Macron e palestrou na prestigiosa instituição Sciences Po, berço da elite política francesa.

“Quero uma América Latina unida, quero vê-la progredir, crescendo junta e integrada com uma lógica de mais igualdade social”, defendeu o presidente, durante a conferência para estudantes e convidados. “Por que este continente tão rico sofre tanto? Só tem uma resposta: desigualdade”, argumentou. “Isso não é um problema de ideologia, de ser mais socialista ou mais liberal É um problema ético que temos como sociedade. Até quando poderemos conviver com esse desequilíbrio?”, sublinhou.

Fernández disse não ter “problema” em dialogar com governantes que não pensam como ele, sobretudo se foram eleitos pelas urnas. “Quem sou eu para questionar?”, complementou, citando os presidentes dos Estados Unidos, do Chile e da Colômbia, mas sem mencionar o Brasil.

O argentino afirmou que “nunca haverá uma América Latina com um pensamento único, e isso não deve ser um problema”, à condição que os líderes se respeitem entre si e preservem a democracia e o funcionamento das instituições. “Por isso me preocupa tanto o que se passa na Bolívia”, destacou o presidente, que não incluiu o caso venezuelano.

Acordo UE – Mercosul

Mais tarde, quando deixava o auditório da universidade francesa e posava para fotos com jovens, Fernández respondeu à RFI sobre o futuro do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. O tratado foi acertado em 2019 mas, para entrar em vigor, depende da aprovação de todos os países-membros de ambos os blocos. “Temos que considerar as assimetrias econômicas que temos e, além disso, estamos num momento de muita crise econômica. Temos que avançar com muita prudência, muito cuidado”, disse o presidente.

Para Fernández, o acordo representa “uma oportunidade para todos, num mundo que se desmembra e se fecha”. “Uma sociedade é um negócio no qual os dois ganham. Se um ganha e o outro perde, não parece ser uma boa sociedade. Estamos trabalhando nisso”, completou o argentino.

Neste contexto, ele ainda minimizou as diferenças que tem com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. “O Brasil nunca me incomoda. Gosto muito dos brasileiros, nunca me incomodam.”

Busca de apoio para negociar com o FMI

Fernández encerra em Paris um giro pela Europa iniciado na semana passada, em busca de apoio para negociar o pagamento da dívida argentina junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele se reuniu com o premiê da Itália, Giuseppe Conte, a chanceler alemã, Angela Merkel, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, e o rei espanhol, Felipe VI, além de Macron. A viagem ainda incluiu uma parada no Vaticano para encontrar seu conterrâneo papa Francisco.

De todos, ouviu palavras de solidariedade diante das dificuldades em honrar o pagamento dos US$ 44 bilhões que Buenos Aires deve ao FMI, de um total de US$ 300 bilhões de dívidas do país com credores. Durante o discurso na Sciences Po, o argentino não poupou críticas ao seu antecessor, Mauricio Macri. “Durante quatro anos, um governo vendeu uma realidade que não existia. Descobrirmos o quanto estávamos mal quando já era tarde demais”, destacou. “Não há nenhuma forma de pedir ajuda que não seja dizendo a verdade, porque no fim a mentira sempre aparece e tudo acaba.”

Alberto Fernández deve retornar a Buenos Aires nesta quinta-feira (6).