Em setembro, Eduardo chamou líder golpista para tratar de adesão da Bolívia ao Mercosul. Por Hugo Souza

Atualizado em 12 de novembro de 2019 às 11:43
Requerimento de Bolsonaro na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN)/ Reprodução: ComeAnanas

PUBLICADO NO COME ANANÁS

POR HUGO SOUZA

Exatos dois meses antes da consumação do golpe civil-militar na Bolívia, o deputado Eduardo Bolsonaro apresentou um requerimento na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), da qual é presidente, para realização de audiência pública sobre o protocolo de adesão da Bolívia ao Mercosul. No requerimento, feito no dia 10 de setembro, Eduardo e Marcel Van Hattem, do Novo, propõem convites a cinco representantes da Bolívia para participarem da audiência, todos eles opositores do governo boliviano então constituído.

A lista é encabeçada precisamente pelo “professor e advogado” Luis Fernando Camacho. Camacho é presidente do fascista Comité Cívico pro Santa Cruz e é considerado o líder civil do violento golpe contra o governo de Evo Morales na Bolívia. Enquanto a polícia e o exército promovem uma caçada a Evo Morales em Cochabamba, Luis Fernando Camacho se esgoela na capital: “pegarão ele! Justiça!”.

Além de Camacho, Eduardo Bolsonaro aprovou na comissão convites a Primitivo Montaño, líder indígena boliviano que foi dirigente provincial do MAS, mas se tornou ferrenho opositor a Evo Morales; à “ativista social” María Anelin Suárez (em suas redes sociais, ela se apresenta como “ativista política internacional contra as políticas de esquerda”); e a David Sejas Lopez, boliviano “exilado” no Brasil, ex-dirigente da radical Unión Juvenil Cruceñista e um antecessor de Camacho na presidência do Comité Cívico pro Santa Cruz.

María Anelin Suárez e David Sejas Lopez, que são casados, são velhos conhecidos do clã Bolsonaro. Em 2016, David organizou em Brasília um “Fórum Internacional Pela Democracia”. Participaram do evento Jair e Eduardo Bolsonaro. Outra participante foi Janaína Paschoal, e outra promotora daquele fórum foi a então “ativista” Carla Zambelli, na condição de fundadora do movimento #NasRuas no Brasil. María Anelin Suárez é porta-voz do movimento #LasCalles na Bolívia.

Hoje deputada federal pelo PSL, foi Carla Zambelli quem organizou também, em maio deste ano, uma reunião entre o “chanceler” Ernesto Araújo, a senadora boliviana oposicionista Carmen Eva Gonzales e o próprio Luis Fernando Camacho. O casal David Sejas Lopez e María Anelin Suárez também estava na reunião.

No fim do ano passado, María Anelin Suárez fez barulho na Bolívia com uma greve de fome contra a decisão do judiciário boliviano de permitir a Evo Morales disputar um quarto mandato. Um ano antes, no fim de 2017, María Anelin Suárez e Carla Zambelli apareceram em um vídeo que repercutiu bastante na Bolívia, chamado “Bolsonaro dá recado a Evo Morales caso ganhe eleição em 2018”.

Bolsonaro venceu a eleição, e María Anelin Suárez veio ao Brasil comemorar. Na época, o site boliviano El Deber publicou uma matéria intitulada “Bolsonaro tem conexões com plataforma da Bolívia” – uma alusão à plataforma #LasCalles -, chamando atenção para o que Bolsonaro dissera a María Anelin naquele vídeo: “podem contar conosco caso a gente chegue ao poder no futuro”.

Naquele vídeo, Carla Zambelli diz: “conseguimos derrubar Dilma e eles vão conseguir derrubar Evo Morales”. No que Bolsonaro emenda: “Ok. Fazemos o possível”.

Reunião ‘com o presidente eleito’

Neste outro vídeo, logo abaixo, de logo após as eleições 2018 no Brasil, María Anelin Suárez fala da relação do #LasCalles com Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Janaína Paschoal e Carla Zambelli, e afirma que ainda em novembro iria se reunir com o “presidente eleito”, para “coordenar”.