Em tempos de bolsonarismo, precisamos de mais gente como o lateral do Flu que anda de metrô. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 12 de dezembro de 2018 às 20:41
Igor Julião. Crédito: Lucas Merçon/Fluminense FC

Nesta semana, um jogador de futebol viralizou por andar de metrô – quando eu ando de metrô, o máximo que acontece é um ataque asmático, se for hora do rush.

Depois de garantir o Fluminense na Série A no Maracanã, Igor Julião voltou pra casa de metrô, dispensando a pompa dos carrões ostentação da maioria dos jogadores de futebol, e os internautas trataram de repercutir a notícia: “Gente como a gente.”

O que parecia um ato de humildade, era, entretanto, cautela.

“É bizarro o foco não ter sido sobre eu não ter ido de carro ao estádio com medo de quebrarem ou alguém ser agredido. Deixei minha família em casa por segurança. Por mais que estivesse confiante, não sabia qual seria o resultado”, explica.

E tá errado?

Nunca se sabe o que esperar no final de um jogo de futebol no Brasil: podem te carregar no colo ou podem destruir o seu carro – um risco que Igor não queria correr.

A forma de interação da maioria das torcidas com jogadores/técnicos/juiz  é ostensiva, por vezes violenta, e as razões disso já foram questionadas algumas vezes: por que tanta violência nos estádios de futebol?

Talvez isso tenha a ver com o machismo ainda impregnado na cultura futebolística – não é o futebol um dos pilares da tríade da macheza, junto com o cigarro e… a bunda feminina? 

Só os verdadeiros machos gostam, e Igor Julião reconhece e tensiona essa questão: ele é um crítico da homofobia no ambiente futebolístico, por exemplo, além de fã de Frida Khalo.

Ele ainda não compra briga, mas defende seus pontos com clareza – engrossa o coro “Quem matou Marielle e Anderson” e leva a público sempre que pode provocações quanto ao futebol enquanto um espaço não-inclusivo:

“É um lugar extremamente hostil para alguém da comunidade (LGBTQ) ou uma mulher trabalharem. 

E não adianta eu brigar com as pessoas porque essa é a mentalidade do meio. Na posição em que estou hoje não vale a pena comprar uma briga dessas” – olha que às vezes vale, hein, Julião?  

São tempos muito estranhos: ao passo em que temos ator pornô virando deputado federal, temos também jogadores de futebol lendo Nietzsche e levantando questões políticas importantes ao seu redor.

Vai, planeta!