O rapper Emicida foi às redes sociais nesta terça (22) criticar a ‘constrangedora’ manchete da Folha de S.Paulo intitulada ‘Década colocou negros na faculdade, e não (só) para fazer faxina’.
O texto afirma que a década de 2010 a 2020 foi marcada pela “conquista do direito dos negros ao conhecimento pelo acesso ao ensino superior”, mas ignora a ação dos governos de Lula, Dilma Rousseff e do movimento negro para tal ‘ocupação’ das universidades.
No Twitter, Emicida escreveu:
É triste que a imprensa brasileira esteja em um lodo tão profundo, que tenha que elaborar uma manchete tão constrangedora quanto “década colocou negros na faculdade, etc…” como se os agentes dessa mudança não fossem os intelectuais do mov. Negro, junto a partidos de esquerda.
Aliás, é bastante pobre o raciocínio que hoje tenta colocar esses movs e partidos de esquerda como antagonistas. Quadros incríveis como Lélia, Abdias e Benedita, pra citar alguns, eram pontos de intersecção dessas duas frentes e construíram um intercâmbio absurdo.
A esquerda brasileira, como a sociedade brasileira, reproduzia (assim como ainda hj reproduz muitas vezes) a sofisticação do racismo local. O mov. Negro rasgou de facão esse consenso e expandiu a reflexão a respeito de como combater isso.
Lá no tempo do FHC, que inclusive é discípulo do Florestan Fernandes, essa efervescência começou a dar frutos e com a ascensão do partido dos trabalhadores ao planalto, essas politicas encontraram um campo mais sensível ainda a essas demandas e acabaram por ser implementadas.
Cito Florestan por que ele é um grande estudioso da inclusão do negro na sociedade brasileira e tem contribuições valiosas a esse respeito, ainda que possam ser limitadas em algumas interpretações, tudo completamente compreensível inclusive, ñ é sábio descartar isso.
Ao invisibilizar os sujeitos dessa “ocupação”, o jornal firma compromisso c/ a manutenção do racismo br e mantém o negro como objeto, sem a capacidade de ser sujeito d sua história. Ao apagar a esquerda, incorre numa militância tacanha q anda junto c/ os terraplanistas no recreio
Pegar episódios de racismo de integrantes/partidos/governos da esquerda br e limitá-la a ser apenas isso é perigoso, pois também houveram desde sempre, pessoas pretas que lutavam junto a conservadores, inclusive pela negritude, João cândido e Abdias foram filiados a AIB
Depois eles saltaram fora daquela pataquada, mas esse é o grau de complexidade que a situação possui. Então, os ativistas do passado, circulavam e mto, com suas bandeiras e prioridades. Quero dizer com isso, que existem muitas camadas a serem consideradas.
Assim como uma tragédia como a AIB, não se torna heróica, por ter gente preta interessante em seus quadros, a esq Br, ñ se torna vilã automaticamente por ter racistas nos seus. Aliás, nem é sobre heróis ou vilões, isso é simplista e tb precisa ser superado p/ discussão avançar.
Esse simplismo favorece a demonização dos movs populares de esq e limita a possibilidade de mobilização, a serem legítimos apenas quando de centro e direita. Algo perigosíssimo pra democracia, sobretudo hoje. Se não conhece o perigo é bom conhecer.
Há q se tomar cuidado c/ a representatividade oca, de uma cultura “influencer” q crê q vencer se resume a estampar campanhas publicitárias, isso ñ é nenhum crime, mas é uma conquista individual, pode e deve ser celebrada, mas ñ pode ser vista como substituta de ações afirmativas
Mover as bases pra uma existência com dignidade, implica em politicas de reparação (cotas, demarcação, renda básica, etc). A magnitude necessária, faz com que só seja possível isso ser operado pelo estado. E aí entra a importância dos movs da sociedade civil na contenção.
Por isso acho incrível a sagacidade dos antigos d negociar e circular, inclusive em ambientes dos quais discordavam. E por isso acho deplorável o simplismo mto visto hj nas redes e o malabarismo pobre de espirito da imprensa ao tratar do tema. Espero que ajude, cansei d digitar
Após a repercussão negativa, o título foi alterado.
Aliás, é bastante pobre o raciocinio que hoje tenta colocar esses movs e partidos de esquerda como antagonistas. Quadros incríveis como Lélia, Abdias e Benedita, pra citar alguns, eram pontos de intersecção dessas duas frentes e construíram um intercâmbio absurdo
— emicida (@emicida) December 23, 2020
Lá no tempo do Fhc, que inclusive é discipulo do Florestan Fernandes, essa efervescência começou a dar frutos e com a ascensão do partido dos trabalhadores ao planalto, essas politicas encontraram um campo mais sensível ainda a essas demandas e acabaram por ser implementadas.
— emicida (@emicida) December 23, 2020
Ao invisibilizar os sujeitos dessa "ocupação", o jornal firma compromisso c/ a manutenção do racismo br e mantém o negro como objeto, sem a capacidade de ser sujeito d sua história. Ao apagar a esquerda, incorre numa militância tacanha q anda junto c/ os terraplanistas no recreio
— emicida (@emicida) December 23, 2020
Depois eles saltaram fora daquela pataquada, mas esse é o grau de complexidade que a situação possui. Então, os ativistas do passado, circulavam e mto, com suas bandeiras e prioridades. Quero dizer com isso, que existem muitas camadas a serem consideradas.
— emicida (@emicida) December 23, 2020
Esse simplismo favorece a demonização dos movs populares de esq e limita a possibilidade de mobilização, a serem legitimos apenas quando de centro e direita.
Algo perigosíssimo pra democracia, sobretudo hoje.
Se não conhece o perigo é bom conhecer.— emicida (@emicida) December 23, 2020
Mover as bases pra uma existência com dignidade, implica em politicas de reparação (cotas, demarcação, renda básica, etc). A magnitude necessária, faz com que só seja possível isso ser operado pelo estado. E aí entra a importância dos movs da sociedade civil na contenção.
— emicida (@emicida) December 23, 2020
Por isso acho incrível a sagacidade dos antigos d negociar e circular, inclusive em ambientes dos quais discordavam. E por isso acho deplorável o simplismo mto visto hj nas redes e o malabarismo pobre de espirito da imprensa ao tratar do tema.
Espero que ajude, cansei d digitar😜— emicida (@emicida) December 23, 2020
Década colocou os negros na faculdade, e não (só) para fazer faxina https://t.co/tD69akEaqu
— Folha de S.Paulo (@folha) December 22, 2020