Emma, Capitu & Ana: um olhar comparativo para o supertrio das adúlteras da literatura mundial

Atualizado em 17 de agosto de 2013 às 18:16

Nos três casos, os romancistas deixam claro que o casamento é para elas um tédio: a saída é o adultério.

Capitu em uma das montagens da obra
Capitu em uma das montagens da obra

Releio, no iPad que me dei, Madame Bovary, de Flaubert.

É uma edição em inglês.

É inevitável comparar Emma de Flaubert com Capitu de Machado, duas das adúlteras mais célebres da literatura.

Quer dizer. Existe a presunção de que Capitu tenha traído Bentinho com Escobar, mas não certeza. O narrador, Bentinho, diz que sim, mas não há evidências fatais. A semelhança que ele diz ver entre seu filho e Escobar pode ser fruto de um ciúme doentio ou de uma mente em desintegração.

Ou não.

Flaubert é direto, Machado sutil. Essa a diferença básica entre Emma e Capitu.

Desde o início de seu romance Flaubert narra a insatisfação de Emma com seu casamento com um médico, Charles. O pior momento, o leitor logo sabe, é o almoço, porque Charles come devagar e obriga Emma a aturá-lo na mesa por um logo tempo.

Charles não tem vivacidade. Não lê livros.

Nele, um doutor maçante, Flaubert retrata a miséria de um casamento.

Você não sente impulso de se casar ao ler Madame Bovary.

E menos ainda se depois passar para Dom Casmurro. Bentinho não é desinteressante como Charles, mas Capitu também não parece tão feliz assim com o casamento com um amiguinho de infância.

As ilusões românticas logo são perdidas. Mas em Capitu essa perda é dissimulada pelo autor, enquanto em Emma ela é escancarada.

Está na cara que Emma vai arrumar um amante que preencha seus desejos e sonhos. Quanto a Capitu, você não tem certeza em nenhum momernto sobre o que ela vai fazer. Se fosse hoje, talvez simplesmente comprasse um vibrador.

As duas formam com Ana Karênina, de Tolstoi, o supertrio das adúlteras da literatura mundial.

Nos três casos, os romancistas deixam claro que o casamento é para elas um tédio. Curiosamente, para os maridos não. Resta a elas, teoricamente, o adultério.

É como se os autores compreendessem a traição, mas sem perdoar. As três terminam mal. Emma e Ana se matam, atormentadas. (Uma das melhores cenas da literatura é o suicídio de Ana sob as rodas de um trem.)

Capitu, repudiada pelo marido, vira uma pária da sociedade em que cresceu.

Não existe saída na vida amorosa, para Machado, Flaubert e Tolstoi.

O casamento é uma coisa tão enfadonha que leva ao adultério. E do gozo ao suplício é um passo.