Se os conselhos financeiros da Empiricus tiverem o mesmo nível das estratégias de marketing, seus clientes estão lascados.
Depois da garota propaganda Bettina virar meme com a história dos R$ 1.520 transformados em mais de um milhão, veio à tona um texto da empresa que serve de tutorial para cheirar cocaína.
O disparate introduz uma análise de mercado publicada em outubro do ano passado na newsletter da Empiricus e divulgada no Twitter pela roteirista Bic Müller.
Após o texto assinado pelo CEO Felipe Miranda se espalhar, o link no site foi apagado.
Pelo cache do Google foi possível acessar a publicação, cujo preâmbulo comprometedor reproduzo aqui:
“Raspas e restos me interessam
Se você tem algum amigo que cheira cocaína ou se você mesmo carrega o hábito, sabe o exato significado do título desta newsletter. Esse pessoal realmente valoriza raspas e restos.
Há um código de honra entre os farinheiros: quem separa as carreiras de pó é sempre o último a cheirar. Ele está sob claro conflito de interesse, entende?
Se for o primeiro a cheirar, o bicudo vai logo na fileira mais longa e gorda. Então, quem divide e estica não escolhe, e pula para o final da fila. Como brinde, leva o direito à lambida no cartão para amortecer a língua e a um restinho na gengiva.
Claro que há sempre aquele tamanduá que ignora a regra e emenda uma narigada em L – cheira a própria carreira e a beiradinha da próxima, tentando não fazer perceber-se. No geral, porém, a regra funciona. A Faria Lima e o Leblon têm muito a aprender com o Baixo Augusta.
Às vésperas da eleição, ainda há raspas e restos para colher com o rali sistêmico dos ativos de risco? Ou não haveria mais nada para nos estimular?”
Este, aliás, não é o único texto de Miranda com referência à cocaína.
Na newsletter de junho de 2018 e como a outra, disponível apenas no cache do Google, ele introduz a análise com uma reminiscência das baladas:
“Minha esperança de sair ainda antes do amanhecer nunca se materializava. Enquanto já me preparava mentalmente para sair da balada, PR (as iniciais do meu tal amigo) ia para o banheiro e esticava uma carreira de cocaína no dorso da mão, no espaço deixado por entre o polegar e o indicador. “Ninety-nine, Felipão!” Aspirava rapidamente aquilo e depois me perguntava, usando sempre as mesmas palavras enquanto inclinava o pescoço para trás e erguia o queixo para cima: “Deixei roupa no varal?” Raramente eu encontrava vestígios do pó branco na narina. A cocaína desaparecia do espectro visível junto com minha chance de ir para casa nas próximas horas.”
Fico a imaginar o escarcéu que os “cidadãos de bem” fariam se um preto ou esquerdista escrevesse a mesma introdução para dar orientações financeiras.
Renderia, talvez, notinha maldosa no site Antagonista, sócio da Empiricus.
Ou, na pior das hipóteses, acusações formais de apologia ao uso de drogas.
Mas escrita por um branco sintonizado com o Deus mercado, passou despercebida pelos defensores da família tradicional brasileira.