Emprego, inflação e China devem guiar estratégia brasileira para fazer Trump recuar, diz analista político

Atualizado em 15 de julho de 2025 às 12:17
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Reprodução

O analista político e professor de Relações Internacionais da FGV-SP, Oliver Stuenkel, disse que três palavras devem guiar a estratégia brasileira para fazer o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recuar em relação ao tarifaço contra os produtos brasileiros: emprego, inflação e China. Para ele, a pressão precisa vir de dentro dos EUA:

Três palavras devem guiar a estratégia brasileira em resposta à ameaça tarifária dos EUA: emprego, inflação e China. A pressão para que Trump recue precisa vir de dentro dos EUA — especialmente de setores que seriam diretamente afetados por tarifas sobre produtos brasileiros.

O 1º obstáculo é político: duas exigências de Trump — relacionadas a Bolsonaro e às big techs — envolvem o Judiciário brasileiro e não podem ser negociadas. Trump parece ignorar que o presidente do Brasil não controla decisões judiciais.

Não é a primeira vez que Trump demonstra desconhecimento sobre outros países. Ele já enviou uma carta com ameaças tarifárias ao rei da Tailândia — que, como se sabe, não exerce poder executivo. Isso reflete o grau de improviso e desconhecimento da equipe de Trump.

O 2º problema: o Brasil é apenas o 15º maior parceiro comercial dos EUA. A curto prazo, tarifas contra o Brasil teriam impacto macroeconômico limitado para os americanos. Por isso, Trump não sofre pressão doméstica para recuar — pelo menos por enquanto.

O 3º obstáculo é estrutural: o Brasil nunca investiu em presença em Washington. Ao contrário do México, da Índia e de Israel, não temos uma operação de lobby, programas com think tanks ou com associações setoriais fortes para defender os interesses do Brasil na capital dos EUA.

Ainda assim, o Brasil tem aliados nos EUA que podem atuar. A diplomacia deve coordenar setores afetados pelas tarifas: construção, automotivo, bebidas, alimentos. Empresas do sul dos EUA veriam disparar o custo de cimento, aço e madeira.

O preço do café, do suco de laranja e da carne enlatada subiria nos supermercados americanos. Montadoras e companhias aéreas seriam afetadas. Flórida, Texas, Ohio e Michigan sofreriam — e devem pressionar a Casa Branca por exceções.

A mensagem precisa ser clara: tarifas contra o Brasil significam perda de empregos em condados americanos e mais inflação — dois temas sensíveis para o governo Trump e que podem afetar o desempenho republicano nas eleições de 2026.

Por fim, é preciso repetir, ad nauseam, o óbvio: essas tarifas enfraquecem os setores no Brasil que defendem uma relação sólida com os EUA — e fortalecem a China, justamente o país cuja influência Trump diz querer conter.