Empresário executado pelo PCC não quis proteção do Estado para “manter estilo de vida”, diz promotor

Atualizado em 11 de novembro de 2024 às 16:01
Vinicius Gritzbach, assassinado pelo PCC, em entrevista à Record. Foto: reprodução

O empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), que foi executado na última sexta-feira (9) ao desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Gritzbach havia firmado um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo em março, mas recusou o ingresso no programa de proteção.

Segundo o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), ele alegou poder arcar com sua própria segurança, recusando-se a abandonar seu estilo de vida e os laços familiares.

“O Ministério Público ofereceu a inserção do Vinicius no programa de proteção de réu colaborador. Ele, na presença de seus advogados, se negou a ingressar nesse programa. Embora soubesse que corria risco, dizia que podia custear a própria segurança”, disse Gakiya em entrevista à GloboNews.

A defesa do delator confirmou que a decisão de não entrar no programa foi do próprio delator, que não desejava abrir mão de sua vida pessoal e de seus vínculos. Gritzbach, considerado um “arquivo vivo”, lavava dinheiro para o PCC há mais de uma década, utilizando a venda de imóveis, transações em bitcoins, joias, postos de gasolina e fintechs como mecanismos para movimentar fundos do crime organizado.

Lincoln Gakiya, promotor de Justiça de São Paulo. Foto: reprodução

Em meio à sua complexa relação com o PCC, o empresário enfrentava um processo por duplo homicídio, sendo acusado de ordenar a execução de um ex-chefe da facção, conhecido como “Cara Preta”, e de seu motorista, em dezembro de 2022. Além disso, ele respondia a diversas ações por lavagem de dinheiro. Mesmo com acusações tão graves, Gritzbach estava em liberdade graças a um habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Na sexta-feira, ele retornava de Maceió com mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de valor, supostamente após cobrar uma dívida na capital alagoana. Contudo, no momento de sua execução, nenhum dos quatro policiais militares contratados como seguranças particulares estava presente. Eles relataram à polícia problemas mecânicos em um dos carros e a necessidade de deixar um dos ocupantes em um posto de combustível, mas essa versão está sob investigação, pois há suspeitas de falha proposital na segurança.

Para o promotor Lincoln Gakiya, a morte de Gritzbach em plena luz do dia dentro de um dos aeroportos mais movimentados do Brasil foi um ato de extrema ousadia e uma mensagem clara do crime organizado.

“Foi um recado. Podiam ter atingido o Vinicius em outro local, mas quiseram deixar bem claro que quem se envolve com o crime organizado e, principalmente, com o dinheiro do crime, pode estar sujeito a esse tipo de execução à luz do dia. É uma audácia muito grande. É um ponto de inflexão, sim. É preciso que as autoridades percebam que estamos entrando em outro estágio de crime organizado no país”, afirmou Gakiya.

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