Empresário que matou gari muda versão e diz em carta que foi “acidente”

Atualizado em 26 de agosto de 2025 às 13:40
O empresário René Nogueira Júnior. Foto: Divulgação

O empresário René Nogueira Júnior, preso após matar o gari Laudemir Fernandes em Belo Horizonte, divulgou uma carta na qual classificou o crime como “acidente”. O documento, escrito de próprio punho e revelado pela Rádio Itatiaia e confirmado pelo jornal O Globo, foi utilizado para esclarecer dúvidas sobre sua defesa técnica, já que o réu havia aparentemente trocado de advogados em duas ocasiões desde a prisão.

Na mensagem, René afirmou estar satisfeito com a atuação dos dois advogados envolvidos no caso. “O que aconteceu foi um acidente com a vítima e me sinto bem representado, tanto pelo Dr. Dracon, como pelo Dr. Bruno Rodrigues. Tenho certeza que resolveremos esse mal-entendido”, escreveu o empresário.

O texto foi divulgado depois que o advogado Cavalcante buscou retomar sua representação no processo. Horas antes da confissão de René, a primeira equipe de defesa havia deixado o caso, sob alegação de “foro íntimo”. Na última segunda-feira, uma nova procuração em favor de Bruno Rodrigues foi anexada aos autos, o que levou ele a procurar o cliente no presídio.

René, então, escreveu a carta para confirmar que não desejava dispensar o advogado. Segundo Cavalcante, houve confusão no trâmite processual.

“O advogado lá do Rio pegou uma procuração com ele e juntou no processo e juntou também uma revogação no nome do René, me tirando do caso. Só que o René falou que assinou sim a procuração, mas não a revogação. Então já juntei a carta no processo, para a gente atender ao pedido do Renê, que é trabalhar os dois juntos. Vamos ver se há essa possibilidade”, disse ao Globo.

Inicialmente, René negava envolvimento no crime e chegou a afirmar que não havia passado pela região onde Laudemir foi morto. A versão mudou após a divulgação de imagens de câmeras de segurança que mostravam o empresário passeando com cães e manuseando uma arma de fogo.

Ao confessar, ele alegou que pretendia “atirar para cima” e que deixou o local por não perceber que havia atingido o gari. Testemunhas negam qualquer “briga de trânsito” e apontam que o disparo ocorreu após o empresário se irritar com a presença do caminhão de lixo.

O gari Laudemir Fernandes. Foto: Divulgação

A investigação concluiu que René atirou depois de se deparar com a coleta de resíduos no bairro Vista Alegre e de ameaçar a motorista do veículo. Peritos confirmaram que a arma usada no crime pertencia à esposa do réu, a delegada Ana Paula Balbino Nogueira.

Em depoimento, ela declarou desconhecer o uso de sua pistola pelo marido. A Corregedoria da Polícia Civil de Minas Gerais abriu procedimento disciplinar e inquérito para apurar sua conduta, mas não houve afastamento da função até o momento.

O Ministério Público mineiro denunciou René por homicídio duplamente qualificado, porte ilegal de arma e ameaça. Além disso, solicitou o bloqueio de R$ 3 milhões em bens do empresário e da esposa, pedido também feito pela defesa da família da vítima.

O advogado Tiago Lenoir, que representa os parentes de Laudemir, afirmou que a conduta do acusado demonstrou “extrema periculosidade” e destacou a vulnerabilidade financeira da família. “A vítima era chefe de família e único provedor de uma menor, hoje órfã de pai; os danos materiais e morais são inegáveis”, declarou.

Lenoir pediu ainda a indisponibilidade de todos os bens móveis e imóveis do casal, incluindo veículos, investimentos e participações societárias, para evitar eventual ocultação patrimonial. O juiz responsável pelo caso ressaltou, em decisão, que a liberdade de René representaria “risco real à ordem pública” devido à frieza e desproporcionalidade da ação.

As testemunhas ouvidas pela polícia reforçaram que não houve confronto, mas sim um ato de violência repentino. Para o magistrado, a forma como o crime ocorreu, em plena luz do dia e contra um trabalhador em serviço, “abala profundamente a tranquilidade social e gera um sentimento de insegurança na comunidade”. René segue preso preventivamente à espera do andamento do processo.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.