
Dois empresários investigados na operação Compliance Zero foram liberados após três dias detidos na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. André Felipe de Oliveira Seixas Maia e Henrique Souza e Silva Peretto haviam sido alvo de prisão temporária, medida que integra a etapa inicial das investigações sobre movimentações financeiras suspeitas envolvendo o Banco Master.
De acordo com o advogado de André, ambos foram soltos por volta da meia-noite e seguiram “direto para suas residências” na capital paulista. Em nota, a defesa declarou estar “nos inteirando do processo e totalmente à disposição para esclarecimento da Justiça”.
Os dois empresários têm vínculos diretos com empresas apontadas como parte do esquema. André dirige a Tirreno, empresa criada em novembro do ano passado e considerada peça central na operação financeira sob suspeita. Henrique é sócio de outra companhia investigada.
A apuração indica que o Banco Master teria comprado e revendido ao BRB R$ 12,2 bilhões em direitos creditórios da Tirreno, operação que, segundo o Ministério Público Federal, ocorreu “sem realizar qualquer pagamento” pela aquisição dos créditos.
Enquanto os dois deixam a prisão, cinco executivos permanecem detidos preventivamente, entre eles o dono do banco, Daniel Vorcaro. Também seguem presos Luiz Antônio Bull, Alberto Felix de Oliveira Neto, Augusto Ferreira Lima e Ângelo Antônio Ribeiro da Silva, que se entregou após ser considerado foragido.
Por se tratarem de prisões preventivas, não há prazo para soltura. Parte dos investigados já tenta obter habeas corpus, mas até agora sem decisão favorável. A Polícia Federal defendia que os executivos fossem transferidos para o sistema prisional estadual, alegando que não teria estrutura para manter presos preventivamente por tempo indeterminado.

Porém, o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, decidiu que eles permanecerão na Superintendência da PF em São Paulo. A decisão corre sob sigilo e, segundo apuração do UOL, levou em conta pedidos das próprias defesas.
A operação Compliance Zero ganhou força após os procuradores identificarem indícios de fraude na revenda dos créditos da Tirreno ao BRB. A transação de R$ 12,2 bilhões, “R$ 6,7 bilhões pelas carteiras e R$ 5,5 bilhões em prêmio”, segundo o MPF, ocorreu entre janeiro e maio de 2025.
O BRB teria feito o pagamento “imediato”, mesmo sem confirmação da existência dos créditos. Para os investigadores, isso configura um forte indício de irregularidade. Outra suspeita levantada pela força-tarefa envolve a ausência de “coobrigação” na operação.
Isso significa que, em caso de inadimplência dos devedores originais, o BRB ficaria com todo o prejuízo, enquanto o Master não teria nenhuma responsabilidade. Esse tipo de revenda, sem garantia, é considerado altamente atípico em operações desse porte e acendeu o alerta nas autoridades.
Segundo o parecer do Ministério Público Federal, as movimentações ocorreram justamente quando avançava a operação de compra do Master. A transferência dos valores foi feita “sem documentação e em violação às normas regulatórias, para evitar a quebra do banco privado antes da conclusão da análise pelo BACEN [Banco Central do Brasil]”.
O órgão afirma ainda que o BRB teria agido em conjunto com o Master. “Há indícios veementes da prática do crime de gestão fraudulenta dos gestores do BRB em conluio com os Diretores do Banco Master”, diz um trecho da investigação.