Empresários relatam ameaças do PCC para forçar venda de negócios e lavar dinheiro

Atualizado em 29 de setembro de 2025 às 7:31
Ministério Público de São Paulo (MP-SP), a Polícia Militar e a Receita Federal realizaram a Operação Spare. Foto: Reprodução/PMSP

Empresários ameaçados pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) relataram como a facção criminosa atua para lavar bilhões de reais por meio de negócios no setor formal. Sob intimidação e risco de morte, eles disseram ter sido obrigados a vender empresas para o grupo, sem receber os valores prometidos e ainda assumindo processos em seus nomes.

Os depoimentos foram revelados neste domingo (28) pelo Fantástico, da Globo. Um empresário contou que aceitou negociar por estar endividado, mas foi enganado e ameaçado.

“Eu tava falido. Acabamos fazendo uma negociação e ele ia assumir todas as dívidas. Na época, ele tinha que me fazer um depósito de R$ 50 mil. Ele não fez. Foi aí que começou o meu problema”, relatou.

Quando tentou desfazer o contrato, ouviu ameaças diretas: “É, tem pai matando o filho por causa de dinheiro. Tem filho matando o pai por causa de dinheiro. Se mata muito fácil por causa de dinheiro”. A quadrilha manteve o posto em seu nome e passou a vender combustível adulterado. “Eu respondo todos os processos porque o posto tá no meu nome, né?”, acrescentou.

Outro empresário também relatou: “Eu vendi em agosto de 2018. Infelizmente, para pessoas não idôneas. A ameaça foi o seguinte: você vai vender o posto por bem ou por mal”. Além disso, sua assinatura foi falsificada em contratos de locação.

“Falsificaram uma assinatura supostamente minha para fazer um novo contrato de locação, essas coisas todas, né? Como eles não arcaram com os financiamentos do posto, hoje eu continuo negociando com o banco para tentar de alguma maneira pagar alguma coisa”, relatou.

Quem comandava o esquema?

As vítimas identificaram envolvidos nas negociações. “Em princípio: Alexandre Leal, que foi a pessoa que veio comprar o estabelecimento. E eu sei que, posteriormente, ele repassou para essa pessoa que se chamava Wilson, e chamavam ele de Wilsinho”, disse um empresário.

De acordo com o Ministério Público, “Wilsinho” é Wilson Pereira Júnior, que comprava os postos em sociedade com o empresário Flávio Silvério Siqueira, apontado como o principal beneficiário.

“Elas eram vítimas até duas vezes. Primeiro, porque não recebiam e depois, num segundo momento, porque passavam a responder, inclusive, pelos crimes praticados pela organização criminosa”, afirmou o promotor Sílvio Loubeh.

O empresário Flávio Silvério Siqueira, conhecido como Flavinho, é o principal alvo da Operação Spare desta quinta-feira (25). — Foto: Reprodução/TV Globo
O empresário Flávio Silvério Siqueira, conhecido como Flavinho, foi o principal alvo da Operação Spare. Foto: Reprodução

Rede bilionária do PCC

Segundo a Receita Federal, o PCC montou uma rede de cerca de 400 postos de combustíveis, dos quais 267 estão ativos, movimentando mais de R$ 4,5 bilhões entre 2020 e 2024, mas recolhendo apenas 0,1% em tributos.

O esquema também envolvia mais de 60 motéis, que geraram R$ 450 milhões no mesmo período, além de restaurantes, padarias, casas de jogos de azar, lojas de franquias e empreendimentos imobiliários. Só os motéis distribuíram R$ 45 milhões em lucros e dividendos.

Empresas ligadas ao setor imobiliário movimentaram R$ 260 milhões em quatro anos, comprando e construindo imóveis. Um restaurante dentro de um dos motéis registrou R$ 6,8 milhões em receitas e distribuiu R$ 1,7 milhão em lucros.

Assista abaixo: