Empresários sabem que não há saída para Bolsonaro, mas estão acovardados. Por Moisés Mendes

Atualizado em 29 de maio de 2020 às 8:49
Bolsonaro e empresários rumo ao STF

Se o Brasil não tivesse se transformado num país de acovardados, que assistiu à ascensão do fascismo sem nenhuma reação política articulada, as agressões da família Bolsonaro contra o Supremo seriam encerradas nos próximos dias. Não passariam de maio.

Mas isso só aconteceria se o Brasil tivesse entidades liberais fortes, conservadoras mas vigorosas, e não arremedos de organizações empresariais e assemelhadas, quase todas golpistas.

O empresariado brasileiro (muito bem sentado no esquema mafioso de patrocínios de fake news) não é apenas caroneiro do fascismo, é seu sócio e seu aliado político.

Há muito tempo esvaiu-se a dúvida em torno do caráter do apoio que o capitalismo brasileiro dá aos Bolsonaros. Não só o ‘capitalismo’ agrário e arcaico, mas o capitalismo da Avenida Paulista.

Fomentou-se como diversão a falsa dúvida sobre a ambição pragmática do empresariado pós-golpe de agosto de 2016.

Se estavam apenas tirando proveito da situação, para que Paulo Guedes conduzisse as reformas em paz, ou se a índole desse capitalismo era mesmo antidemocrático.

Vai sendo provado que o caráter dos empreendedores nacionais, de todos os calibres, é mais do que conservador, mais do que reacionário, é entreguista, negacionista, imediatista, oportunista.

Pegue-se um pensador da direita, e não alguém de esquerda, que seria logo desqualificado pelo empresariado, que reflita sobre a adesão do empresariado à extrema direita.

Pegue-se o que diz Demétrio Magnoli, que pergunta há muito tempo, a partir da situação que vivemos, se é verdade que, para ser liberal, o capitalismo brasileiro precisa suprimir a democracia e cortejar desmandos?

Mas como ser cúmplice de um Bolsonaro, se nos iludiram com a ideia de que, na doutrina liberal, a liberdade política é inseparável da liberdade econômica? É o que pergunta Magnoli, sempre sem respostas. É tudo bobagem.

Os liberais brasileiros, e aqui não há referência apenas ao sentido econômico, encolheram-se diante do bolsonarismo.

Encaramujaram-se nas suas ‘entidades representativas’, nas instituições das chamadas forças vivas locais e, o que é dramático, nas universidades.

A UFRGS, a nossa mais bem avaliada universidade pública, reduto histórico de resistências, está promovendo debates com a participação de expressões da extrema direita.

Extremistas que conspiram contra as liberdades, incluindo a de expressão, podem frequentar o espaço da universidade pública para falar em nome do direito de ser fascista?

É provável que, em nome do livre pensar, as universidades acolherão um dia nazistas assumidos para troca de ideias sobre a pandemia como possibilidade de eugenia?

O bolsonarismo cooptou sentimentos e interesses, em todas as áreas, muitos com adesões dissimuladas, e aniquilou a possibilidade de reações no setor público. Tudo ficou fácil para a direita.

O enfrentamento das deliberações do Supremo para conter a indústria de fake news e difamações é liderada por um filho de Bolsonaro e por uma militante armamentista da extrema direita. E não há nenhuma manifestação dita liberal, solitária ou em jogral, que se insurja em defesa do Supremo.

Um filho de Bolsonaro, um blogueiro e uma militante de Youtube decidem desafiar a mais alta Corte do país e ninguém mais, fora as esquerdas, a imprensa e as entidades de sempre, como a OAB, ergue a voz. Sim, as exceções são as exceções.

O projeto do liberalismo bolsonarista nem existe mais. Não há
qualquer sinal de funcionalidade do governo. Paulo Guedes sumiu. Mas Bolsonaro e os filhos fingem que governam, com a proteção dos militares.

E os ‘liberais’ acreditam que algo pode ser salvo. Estão mudos, resignados, cagados.

Os empresários fazem o marketing das lutas identitárias. Ganham dinheiro com o marketing ambientalista. Defendem pautas progressistas nos costumes. Mas são covardes para enfrentar Bolsonaro e dizer não à ameaça de golpe.

Eles sabem que não há saída com Bolsonaro, mas estão paralisados pela inércia de décadas de covardia.