Empresas chinesas ampliam presença no Brasil com aposta em tecnologia e consumo

Atualizado em 19 de outubro de 2025 às 17:37
Os robôs que ajudam varejistas on-line a agilizar entregas, trazidos pela chinesa Libiao ao Brasil — Foto: Divulgação / Libiao

O capital chinês está expandindo sua presença no Brasil para além da infraestrutura e da energia. Depois da chegada de montadoras como BYD e GWM, empresas de tecnologia, delivery e alimentação agora impulsionam uma nova fase de investimentos voltados ao setor de serviços. O foco está no apetite do consumidor brasileiro e no potencial de digitalização do país, com aportes bilionários em e-commerce, fast-food, telefonia e meios de pagamento.

A multinacional de automação Libiao desembarcou recentemente no Brasil para atender o setor logístico do comércio eletrônico, com robôs capazes de agilizar centros de distribuição. Já a gigante de sorvetes e chás Mixue, maior rede de fast-food da China, anunciou investimento de R$ 3,2 bilhões, com planos de abrir franquias, montar fábrica no país e gerar 25 mil empregos até 2030. A empresa aposta no baixo custo e em uma estratégia de verticalização, que une produção e distribuição de insumos.

Outra aposta é da Meituan, dona do aplicativo Keeta, que promete investir R$ 5,6 bilhões em cinco anos e formar uma rede com 100 mil entregadores. No setor financeiro, a bandeira UnionPay estreou no país em parceria com a fintech Left, permitindo saques em 24 mil caixas do Banco24Horas. Já as fabricantes Oppo e Jovi anunciaram expansão de suas operações de celulares, mirando o Brasil como o principal mercado da América Latina.

Mixue: o sorvete que faz sucesso na China e quer conquistar os brasileiros com preço baixo. Foto: Bian/Bloomberg

Segundo dados do Banco Central, o investimento direto chinês em participação de capital no Brasil triplicou em cinco anos, saltando de US$ 105 milhões em 2019 para US$ 306 milhões em 2024. Apenas no primeiro semestre de 2025, o volume já atingiu US$ 379 milhões (R$ 2 bilhões). O Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) aponta que o país foi o principal destino de aportes produtivos chineses entre as economias emergentes, com 39 projetos e US$ 4,18 bilhões em investimentos no último ano.

Especialistas apontam que a guerra comercial entre China e Estados Unidos, intensificada pelo governo Trump, acelerou o redirecionamento de capitais chineses para o Brasil. A estratégia de Pequim é reduzir dependência do mercado americano e ampliar sua influência em economias com grande consumo interno. “O chinês consome muito, mas produz mais, e o Brasil é a porta de entrada ideal na América Latina”, explica o economista Roberto Dumas, do Insper.

Para Vivian Fraga, especialista em China do TozziniFreire Advogados, o momento marca uma mudança de percepção do consumidor brasileiro sobre produtos e serviços chineses. “Houve um salto de qualidade e de sofisticação. Hoje, o brasileiro quer preço competitivo, mas também inovação — e é justamente isso que a China está oferecendo”, afirma.