Empresas de café e suco de laranja dos EUA se mobilizam para pressionar Trump

Atualizado em 11 de julho de 2025 às 13:26
Café e suco de laranja: produtos estão entre os mais exportados do Brasil para os EUA. Foto: reprodução

O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre taxação de 50% em produtos brasileiros está causando turbulência em um dos hábitos mais arraigados em seu país: o consumo diário de café. Como maior importador mundial da bebida, os EUA recebem do Brasil entre 20% e 30% de todo seu café, cerca de 8,1 milhões de sacas anuais, em um mercado que movimenta US$ 20 bilhões por ano.

O impacto já é sentido nas grandes redes. A Starbucks, que importa 22% de seu café do Brasil, pode ver seus custos aumentarem em 0,5%, com alguns produtos específicos chegando a 3,5% de aumento, segundo análise da TD Cowen. A medida, se implementada em 1º de agosto como previsto, pode reduzir os lucros da gigante do café em 1,4%.

“O setor já está recalculando tudo”, revelou um importador estadunidense à coluna de Jamil Chade, no Uol, que preferiu não se identificar. Apesar de o governo Trump ter sinalizado em junho que poderia abrir exceções para commodities estratégicas como o café, a crise política com o Brasil deixou o setor em suspense.

A turbulência não para no café. O suco de laranja, outro produto em que os EUA dependem fortemente do Brasil, também está na mira. Mais da metade do suco consumido pelos americanos vem do país tropical, e a taxação chega em um momento crítico: a colheita de laranja nos EUA deve atingir em 2024 seu nível mais baixo em 88 anos, segundo o Departamento de Agricultura estadunidense.

Donald Trump apresentando o decreto do tarifaço. Foto: reprodução

Jorge Viana, presidente da Apex, foi enfático: “A dependência [dos estadunidenses] é absurda”. A Flórida, principal produtora dos Estados Unidos, vem sofrendo com pragas e furacões que reduziram drasticamente sua capacidade produtiva nos últimos anos.

As tarifas estão mobilizando grandes corporações dos EUA com interesses no Brasil. Em reuniões de emergência realizadas na quinta-feira (10), empresas dos dois países chegaram ao consenso de que precisam estabelecer canais de comunicação urgentes para pressionar a Casa Branca.

O estoque de investimentos estadunidenses no Brasil ultrapassou US$ 300 bilhões em 2024, com 126 novos projetos anunciados apenas no ano passado, o maior número em uma década. Agora, as filiais brasileiras dessas multinacionais estão acionando suas matrizes nos EUA para uma ação coordenada contra as tarifas.

Tarifaço

A carta de Trump ao governo brasileiro deixou claro que a medida está vinculada ao processo judicial contra Jair Bolsonaro (PL), inelegível por crimes eleitorais e réu em processo no Supremo Tribunal Federal (STF) pela tentativa de golpe de Estado entre 2022 e 2023.

“Essa é uma disputa política com a extrema direita, não comercial”, afirmou uma fonte do Palácio do Planalto. “O que está claro é que o centro é a eleição presidencial de 2026 e, se abdicarmos, é capitulação”.