
Às vésperas do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e dos demais réus envolvidos na trama golpista, que começará nesta terça-feira (2), o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Luís Roberto Barroso, declarou que em breve o Brasil “empurrará o extremismo para a margem da história” e entrará em um novo ciclo político de maior ponderação.
“Na democracia, a regra é que quem ganha leva, quem perde não fica despojado dos seus direitos e pode continuar a concorrer. O que me preocupa é o extremismo. Acho que em breve, vamos empurrar o extremismo para a margem da história e teremos uma política onde conservadores, liberais e progressistas estarão presentes, como a vida deve ser”, afirmou o ministro durante uma entrevista a jornalistas, após palestra na Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ) nesta segunda-feira (1º).
Barroso ressaltou que a história do Brasil é marcada por episódios de quebra de legalidade e que o julgamento da trama golpista pode representar o “encerramento dos ciclos de atraso no país”. “Essa ideia de que quem perde tenta levar a bola para casa ou mudar as regras é um passado que precisamos enterrar”, completou.
Embora Barroso não faça parte da Primeira Turma da corte, responsável por julgar as acusações contra Bolsonaro e outros sete réus, a expectativa é de que o julgamento tenha uma conclusão até o dia 12 de setembro. A Primeira Turma é composta pelo presidente da turma, ministro Cristiano Zanin, e pelos ministros Alexandre de Moraes (relator), Flávio Dino, Cármen Lúcia e Luiz Fux. A defesa de Bolsonaro tem solicitado que o caso seja analisado pelo plenário do STF, presidido por Barroso, mas até o momento não obteve êxito na demanda, que precisa ser aprovada por Moraes.
O julgamento pode, pela primeira vez, resultar na condenação e prisão de um ex-presidente brasileiro por tentativa de golpe de Estado. Setembro marca o último mês de Barroso na presidência do STF. Em 13 de agosto, o plenário do STF elegeu o ministro Edson Fachin para assumir a presidência da corte no biênio 2025-2027. A posse ocorrerá no dia 29 de setembro.
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, disse que o julgamento de Jair Bolsonaro e outros sete réus por tentativa de golpe é importante para encerrar um ciclo de atraso no país; e que precisa ocorrer com serenidade.
➡ Assista ao #Edição18: https://t.co/bFwcwLpLU9 #GloboNews pic.twitter.com/EUq7a3QP8V
— GloboNews (@GloboNews) September 1, 2025
Barroso comentou ainda as tensões em torno do julgamento do 8 de Janeiro e da acusação de tentativa de golpe, destacando que nenhum país enfrenta esse tipo de julgamento sem algum grau de tensão, mas que “a tensão foi absorvida institucionalmente”. O ministro ressaltou que, durante sua presidência, a vida democrática seguiu de forma natural.
Barroso ainda destacou a ascensão do extremismo nos últimos anos. “É isso que aconteceu entre nós e é isso que precisamos desfazer, retomando a civilidade, que é a capacidade de conviver com quem pensa diferente sem precisar desqualificar o outro”, afirmou Barroso. “A democracia tem espaço para liberais, progressistas e conservadores. A civilidade não significa abdicar de suas posições, mas sim respeitar e considerar o outro.”
O ministro fez questão de destacar um marco importante de sua gestão: o julgamento de junho, que ampliou a responsabilização das big techs por conteúdos criminosos postados por terceiros. “Foi uma solução extremamente moderada, mas muito importante que conseguimos implementar no Supremo”, concluiu.