Encarceramento de Lula escancara uma ruptura de um sistema democrático, diz escritor cubano

Atualizado em 17 de agosto de 2019 às 18:38
Leonardo Padura. Foto: Eduardo Matysiak

Publicado originalmente no Blog da Boitempo

POR LEONARDO PADURA, escritor cubano

Em turnê pelo Brasil para lançar seu romance A transparência do tempo, o escritor cubano Leonardo Padura fez questão de fazer uma visita ao ex-presidente Lula em Curitiba. O encontro se deu ontem, dia 15 de agosto de 2019, junto com a ativista Monica Benício, viúva de Marielle Franco. Após a visita, o autor de O homem que amava os cachorros nos enviou a seguinte declaração pública em que manifesta, por escrito, sua solidariedade ao ex-presidente e relata um pouco de suas impressões a respeito do encontro e sobre a situação do país. Confira também, ao final deste post, um registro em vídeo da passagem dele e de Monica pela vigília Lula Livre.

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Leonardo Padura (centro) e Monica Benício (esquerda) em visita ao acampamento Lula Livre em frente à Política Federal. 15 ago. 2019. Foto: Ricardo Stuckert.

Declaração:

Desde o início do processo criminal contra o ex-presidente Lula, suspeitávamos que se tratava de uma estratégia desenhada para inviabilizar o acesso à disputa eleitoral ao candidato cujas pesquisas apontavam como nome mais seguro à Presidência do Brasil nas eleições de 2018.

As revelações que surgiram posteriormente, em especial durante os últimos meses, confirmaram o fato de que Lula foi criminalizado por motivos políticos, mais do que por questões puramente jurídicas.

O encarceramento do presidente e sua atual permanência na prisão escancaram que houve no Brasil uma ruptura de um sistema verdadeiramente democrático de Estado.

Acredito firmemente que em nenhum país ou sob nenhum sistema, uma pessoa deva ser perseguida, criminalizada, atacada por suas posições políticas. É um direito universal do homem ter liberdade de opiniões políticas, desde que essas ações, ideias, posturas não gerem manifestações de ódio, xenofobia, discriminação ou perseguição de outros indivíduos.

Da minha modesta posição pessoal e considerando-me amigo do presidente Lula da Silva, me solidarizo com todos os homens e mulheres que no mundo sofreram e sofrem perseguição e assédio por defenderem sem violência suas ideias a respeito da sociedade e do mundo.

Por ocasião da visita que pude lhe fazer em seu cárcere na Polícia Federal de Curitiba, encontrei um Lula animado, lutador, convencido de suas razões, disposto a permanecer na prisão até que possa sair como um homem livre. E confiante de que, mais cedo ou mais tarde, a justiça desempenhará o papel que lhe cabe.

Leonardo Padura, escritor.

Curitiba, 15 de agosto 2019

Leonardo Padura e Mônica Benício. Foto: Eduardo Matysiak