Está no ar o que o general Augusto Heleno chamou, ao se referir ao novo normal de Bolsonaro, de um esforço pela conciliação. Bolsonaro, os generais, a Globo, a Folha, os jornalistas amigos do poder, os que fingem ser do lado inimigo – está todo mundo em ponto morto.
O tom da cobertura da Globo é menos agressivo, William Bonner baixou a voz. Não se vê mais aquele Bonner ofegante, dando o boa noite de encerramento do Jornal Nacional exaurido e com a testa franzida. Bonner até está alegre.
E Bolsonaro está quieto, como ficou desde a prisão de Queiroz e das decisões do Supremo que enquadraram os generais e desmascararam o blefe do golpe.
Os militares não têm o poder moderador de coisa alguma. Não são a farda, nem os soldados, os tanques ou as armas que lhes asseguram alguma superioridade legal ou moral sobre qualquer outro agrupamento institucional ou social.
O Supremo denunciou a desimportância dos militares e expôs a perda de qualidade dos aliados de Bolsonaro. As Forças Armadas perderem glamour e inteligência, inclusive em comparação com os quadros da ditadura.
Uma filha de Golbery do Couto e Silva, o mais poderoso chefe da Casa Civil da ditadura iniciada em 64, nunca seria empregada em alto cargo do governo. Jamais seria.
A filha de Braga Netto, chefe da Casa Civil de Bolsonaro, arranjou emprego na Agência Nacional de Saúde com salário de R$ 13 mil.
É com essa turma que se dá a conciliação de governo e imprensa, ou o que antigamente se chamava de acordão.
Bolsonaro fica quieto, a Globo se recolhe, a Folha pega leve e os militares prometem alguma coisa em troca que não sabemos ainda o que possa ser. Talvez seja apenas uma trégua ou uma hibernação.
Bolsonaro comporta-se como se continuasse infectado, não agride ninguém e fica à espera dos próximos movimentos de Ministério Público e do Supremo em torno dos rolos dos filhos nos inquéritos sobre Queiroz e as milícias no Rio e sobre a fábrica de fake news e os atos fascistas em Brasília.
Bolsonaro e os generais perceberam que não podiam continuar blefando. A Covid-19 de Bolsonaro (alguém acredita?) foi o pretexto para o recolhimento.
Bolsonaro foi infectado dia 7. Passaram-se 15 dias e o sujeito continua quieto, esperando agora o resultado de um novo exame.
Heleno disse, em entrevista à Rádio Jovem Pan, que Bolsonaro busca agora a conciliação com os outros poderes e age como se fosse “um poder moderador”.
Presidente da República não tem que fazer moderação, tem que governar. É o que Bolsonaro nunca fez.
A novidade é o acovardamento de Bolsonaro, que cada um define como quiser. Mas conciliação não é.