Enel sob pressão: Quatro dias após temporal, SP segue com 519 mil imóveis sem luz

Atualizado em 13 de dezembro de 2025 às 11:31
Funcionários da Enel trabalhando nesta sexta-feira (13) na Rua Eça de Queiroz, na Vila Mariana, em São Paulo. Foto: Reprodução

Quatro dias após o vendaval, São Paulo ainda tem 519 mil imóveis sem luz, enquanto a Enel enfrenta ações na Justiça e pressão política. Os dados são da própria concessionária e mostram que, na manhã deste sábado (13), centenas de milhares de moradores seguem sem energia, apesar da redução em relação à sexta-feira, quando 633 mil imóveis estavam às escuras.

Na capital paulista, 387 mil imóveis seguem sem fornecimento de energia, o equivalente a 6,68% do total de 5,8 milhões de unidades atendidas. Em Santo André, são 13.537 clientes sem luz, e em São Bernardo do Campo, 14.647. Proporcionalmente, a situação é mais grave em Cotia (10%), Itapecerica da Serra (19,90%), Embu-Guaçu (22,43%) e Juquitiba (31,50%).

Reclamações e prejuízos se acumulam

Nas redes sociais, moradores relatam longos períodos sem energia, perdas de alimentos e falta de água. “36 horas sem energia. 36 horas no escuro, no calor, sem água em alguns momentos, com alimentos perdidos e ZERO previsão de retorno”, escreveu um usuário no perfil da Enel.

Outro reclamou: “38h sem luz. Moema e Interlagos. Quero ver eu ficar sem pagar a luz. Aparecem aqui já cortando a energia”.

Há relatos de ceias de Natal inteiras descartadas após estragarem por falta de refrigeração. Em uma postagem, uma mulher exibiu um peru perdido e escreveu: “Obrigada, Enel”. Em outra, um internauta compartilhou a foto de uma geladeira vazia e dos alimentos em um saco de lixo.

Casos críticos de saúde

A falta de energia também afetou pacientes que dependem de equipamentos médicos. Maria Sofia Araújo Freiria, de 12 anos, paciente renal que aguarda transplante, precisou descer 14 andares de escada para chegar ao Hospital das Clínicas.

Segundo a mãe, Daylyana Araújo, a menina costuma fazer diálise em casa, com equipamento ligado à tomada, e não pode ficar mais de 24 horas sem o tratamento.

“De noite, ela orava e dizia: “Senhor, sei que têm muitas pessoas precisando. Mas só me mande a luz que não peço mais nada”, disse ao Globo. “Nós passamos 50 dias internadas entre agosto e outubro. Conseguimos o equipamento com o HC, via convênio, e viemos para casa para ter melhor qualidade de vida.”

Enel fala em operação complexa

A concessionária afirma que já restabeleceu o fornecimento para cerca de 1,2 milhão de clientes até a tarde de quinta-feira e diz manter 1.600 equipes em campo.

“Seguimos nas ruas, com 1.600 equipes em campo, trabalhando para normalizar o serviço para os clientes que ainda estão sem energia. Em alguns casos, o restabelecimento é mais complexo, exigindo a reconstrução de postes, transformadores e trechos de rede”, informou a empresa.

Justiça e pressão política

Na sexta-feira, o Ministério Público de São Paulo e a Defensoria Pública acionaram a Justiça para exigir a normalização “imediata” do fornecimento, sob pena de multa de R$ 200 mil por hora.

A ação pede que a energia seja restabelecida para todas as unidades afetadas desde 9 de dezembro ou, no máximo, até quatro horas após a ciência da decisão judicial, além de exigir estimativas claras sobre o retorno do serviço.

Em outra frente, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) acusou a Enel de mentir sobre o número de equipes em campo. Segundo ele, o sistema SmartSampa indicou que menos de 40 veículos da concessionária circulavam pela cidade na quinta-feira.

“Posso afirmar categoricamente que isso não é verdade”, disse o prefeito, ao contestar a versão apresentada pela empresa.