Professor e doutor pela USP, filiado ao PSOL, Daniel Cara escreveu sobre o Enem 2021. Cara foi candidato pela legenda ao Senado e é um dos idealizadores da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
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Alguns estudantes de escolas particulares defenderam um #Enem mais conteudista nas minhas redes sociais. O argumento é o do duplo esforço: eles se esforçaram estudando e os pais se esforçaram pagando mensalidades. Conclusão: esse é mais um motivo para o Enem não ser conteudista. +
O ensino conteudista é um equívoco científico: a transmissão de conteúdos. Ela não existe, em termos pedagógicos. O aprendizado se dá dentro de cada um/a, mediado por um/a educador/a. O conteudismo deixa de lado o processo de aprendizagem, além de obstruir o pensamento crítico. +
Como método, o conteudismo se pauta pela “transferência” hierárquica (vertical) de conhecimentos do professor para o aluno, tratando o educando como um mero receptor, sem se preocupar com a compreensão crítica do estudante. Assim ele se torna um reprodutor, não um pensador. +
Uma prova conteudista exige memorização de algoritmos, fórmulas, datas e terminologias. É marcada pela descontextualização e ausência de compreensão sobre processos históricos, raciocínio lógico e raciocínio analítico, todos fundamentais para o pensamento científico. +
Por que uma prova conteudista é elitista? A resposta é complexa, mas segue o principal: os conteúdos escolares são aqueles valorizados pela elite dominante. Além disso, ao não valorizar o pensamento crítico, a prova reforça o status quo. Assim, favorece escolas privadas. +
Um exemplo de conteudismo foi dado por Bolsonaro. Dias atrás ele disse que queria uma questão sobre a ditadura militar no #Enem2021. E apresentou como alternativas datas de início do regime. O que ele não quer é que o aluno analise a violência e o autoritarismo da ditadura. +
Desde 2017 o Enem tem sido mais conteudista. Isso é um péssimo sinal. O Brasil precisa de futuros profissionais capazes de resolver problemas e (re)construir o país, com justiça social e democracia. É o que preconiza o art. 205 da Constituição Federal de 1988. Esse é o caminho.
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