Enem: Objetivo ignora dificuldades dos estudantes mais pobres, publica mensagem preconceituosa e depois apaga

Atualizado em 14 de maio de 2020 às 19:50
Di Genio e a mensagem do colégio que ignora a desigualdade no país

O colégio Objetivo, do bilionário João Carlos Di Genio, mostrou mais uma vez que seus dirigentes pedagógicos não estão à altura das mudanças em curso no mundo.

Para tentar atrair novos alunos, publicou um banner em que ignora a desigualdade entre os estudantes que se preparam para o vestibular.

É um suposto diálogo. Diz a mensagem:

“O ano é 2020.

— Você é médico?

— Sim.

— Um fato determinante para o seu sucesso?

— Ter estudado muito em 2020 enquanto meus concorrentes só reclamavam da situação em que vivíamos na época.”

A mensagem repercutiu tão mal entre os estudantes que a escola apagou da rede.

Os educadores do colégio não compreenderam que a dificuldade de metade dos estudantes do ensino médio no Brasil é a ausência de rede de internet e de computador para estudar.

Nesse suposto diálogo, o correto seria o médico de 2030 dizer: “eu tinha meios para estudar que meus concorrentes não tinham. A pandemia agravou a situação de desigualdade em meu país e eu fui beneficiado”.

Nesse diálogo, se houvesse sinceridade, o médico diria mais: o governo da época também despreza os mais pobres e nem sequer adiou o Enem, o que contribuiu para pessoas privilegiadas como eu ter um desempenho melhor nos exames, não por mérito meu, mas por que os concorrentes não estavam preparados — eles não tinham meios para estudar remotamente.”

João Carlos Di Genio já demonstrou outras vezes que sua visão de mundo é de classe, politicamente alinhada à direita mais atrasada do Brasil.

Em 2018, ano em que Bolsonaro se elegeu em um pleito viciado — já que seu principal concorrente, Lula, foi impedido pela justiça eleitoral de se candidatar –, sua universidade, a Unip, aplicou uma prova em que associava o PT à corrupção.

O presidente do partido, Gleisi Hoffmann, deu resposta à altura na época.

“O mesmo Di Gênio que utiliza um texto satírico em prova da UNIP, para difamar e criminalizar o PT, foi apanhado no escândalo dos Panama Papers, por esconder contas milionárias em paraísos fiscais em pelo menos quatro offshores administradas pela famigerada Mossak Fonseca. Que moral tem sua instituição para falar de um caso em que a Justiça inocentou o PT?”

Os dirigentes pedagógicos do Objetivo precisam voltar para a escola e aprender mais sobre democracia. Com certeza, faltaram nessas aulas. Ou não deram importância, por saberem que em um país tão desigual como o Brasil os mais ricos são sempre beneficiados.