Enfrentar a Globo exige causa e causa Bolsonaro não tem. Por Fernando Brito

Atualizado em 21 de janeiro de 2019 às 12:00
Foto: Reprodução/TV Globo

Publicado originalmente no Tijolaço 

POR FERNANDO BRITO

Enfrentar o poder da Rede Globo é a alternativa menos confortável para qualquer político ou governante no Brasil.

Mas este enfrentamento só será compreensível pela população e se transformar num movimento de opinião pública se nele houver causas essenciais para o país em jogo.

Qual é a divergência essencial entre as posições da Globo e as de Jair Bolsonaro?

Procurem na pauta econômica e é provável que nem uma sequer seja encontrada.

Não há, exceto nas questões de costumes, onde a Globo sempre adotou uma postura “moderna”, aliás essencial para seu mercado de publicidade e para sustentar um suposto “jornalismo com opinião” que passou a adotar desde o final dos anos 80, para “qualificar-se” politicamente, o que não era sua marca antes.

Aliás, não apenas não era sua marca, mas também sua “inveja” ante o velho Jornal do Brasil e o Estadão, até ali os “formadores de opinião”.

Este movimento empolgou também a Folha, tendo como marca a campanha das “Diretas Já”.

Portanto, o enfrentamento de Bolsonaro à Globo prendeu-se apenas a duas questões, para ele essenciais na campanha: a pauta “moral” e o elogio à ditadura que a Globo defendeu e, para adaptar-se aos novos tempos, renegou.

E, claro, à sua aliança com as correntes evangélicas fundamentalistas, pilar de sua campanha e donas de um apetite jamais disfarçado de controlarem as comunicações de massa no Brasil.

Essa é a “diferença que faz toda a diferença” ao se analisar o enfrentamento entre ambos ao menos até agora, porque não havendo conflito no essencial o armistício sempre é mais simples.

O que não quer dizer que esteja para acontecer, ao contrário: a queda de braço entre as entrevistas amestradas do bolsonarismo na Record e no SBT e a metralhadora de denúncias do Jornal Nacional é evidente e pende para este último no momento.

O dano principal, até agora, é o de ter tirado a desenvoltura do clã Bolsonaro nas redes sociais, seu “front” mais favorável.

Há ganhos, porém, e o principal é o de ter eclipsado a pauta econômico-social – justamente aquela que a ambos reúne – da ribalta do noticiário: a reforma da previdência e a venda de patrimônio nacional.

Maior que danos e vantagens, porém, é o perigo.

Porque escândalos, como se dizia antigamente das CPIs, todo mundo sabe como começam e ninguém pode prever como terminam.

Este, pelo visto, está muito longe de ter chegado ao fim e as notícias dos próximos dias o mostrarão.

No momento, o saldo é negativo apara ambos: Bolsonaro perdeu apoio entre os que acreditam na Globo e a Globo perdeu apoio entre as hordas bolsonaristas.

É pela teia destas contradições que temos de saber escalar.