Enquanto a promotora bolsonarista não for removida do caso Marielle, o MP do Rio estará sob suspeita. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 1 de novembro de 2019 às 8:47
A bolsonarista Carmen, o enterro de Marielle e o procurador-geral Eduardo Gussen

O procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, tem sobre sua mesa uma série de indagações sobre a inconveniência —  e eventual ilegalidade — da presença da bolsonarista raiz Carmen Eliza Bastos de Carvalho no grupo de promotores que investigam — sem êxito até agora — quem são os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco.

Como noticia a coluna Mônica Bergamo hoje, há também pedidos para seu afastamento.

O DCM encaminhou ontem de manhã perguntas ao procurador, que o Ministério Público promete responder. São elas:

1) Por que Carmen Eliza Bastos de Carvalho, sendo bolsonarista raiz, conforme se verifica em sua rede social, participa do grupo que investiga o caso, considerando que há suspeitas de envolvimento de milicianos, grupo que a família Bolsonaro defende?

2) Desde quando ela participa dos trabalhos de investigação? Desde o inicio?

3) Como ocorreu sua designação para atuar nesse grupo?

4) Quantos promotores atuam no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro?

5) Quantos atuam no Gaeco? Estão todos no caso Marielle?

6) Depois que se tornou público o alinhamento da promotora a Bolsonaro e às ideias que ele defende, ela continuará no caso?

As respostas serão publicadas assim que o Ministério Público responder. Diante do silêncio dos responsáveis pela instituição, fica a suspeita de que haja influência politica para que o caso Marielle não seja esclarecido.

Afinal, por que, num universo de centenas de promotores e procuradores, o caso de Marielle foi cair justamente nas mãos de uma promotora que, nas horas vagas — e talvez nas de trabalho também –, faz campanha para Bolsonaro e posa para fotos com políticos que tripudiam sobre o cadáver da vereadora assassinada, como Rodrigo Amorim.

No Ministério Público, existem os promotores naturais de casos, e estes não podem ser afastados.

Mas não é o caso daqueles que participam da assessoria do procurador-geral, como é o caso do Gaeco, o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado.

É preciso saber por que Carmen foi parar no grupo de promotores do caso Marielle depois de se destacar por pedir o arquivamento da investigação contra 13 policiais militares suspeitos de ocultar o corpo do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza.

Em junho deste ano, ela convenceu os desembargadores Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro de que o melhor era abandonar o caso, já que as investigações não avançavam.

Um argumento que poderia se encaixar também no caso Marielle, já que as investigações sobre os mandantes não avançam. E não avançam por quê?

Quando surgiu uma pista, como é o caso do registro da portaria do condomínio Vivendas da Barra, as promotoras, em vez de aprofundarem a investigação, trataram logo de descartá-la, como se fossem advogadas de defesa.

E ainda chamaram a imprensa para anunciar que o autor do registro, o porteiro, é que era o suspeito.

Escandaloso.

Uma das maneiras de impedir que uma investigação avance é colocar no comando dos trabalhos um profissional amigo, que, numa antiga gíria policial, era chamado de Omo, ou seja, lava mais branco.

Naquela gravação famosa em que Aécio Neves pede dinheiro a Joesley Batista, ele dá o caminho das pedras sobre como fazer uma investigação não dar em nada.

“Você tem lá cem, sei lá, 2.000 delegados da Polícia Federal. Você tem que escolher dez caras, né?”, disse, para em seguida explicar que os inquéritos devem ser distribuídos para aqueles já comprometidos com o arquivamento.

No caso de Aécio, deu certo.

O ministro da Justiça que se recusava a seguir o modelo proposto por ele, Osmar Serraglio, caiu, e o inquérito sobre a Lista de Furnas foi para um delegado de confiança, que alguns meses depois arquivou a investigação, sob o argumento de que não avançava.

Quem colocou a bolsonarista Carmen à frente do inquérito sobre Marielle? Foi o procurador-geral?

Se Eduardo Gussen a mantiver lá, será cúmplice de uma operação para impedir que o Brasil saiba quem mandou matar Marielle. E por que. E, principalmente, para impedir que os mandantes sejam punidos.

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Leia também: A pergunta sem resposta: por que o porteiro registrou que a casa de Bolsonaro era o destino do matador?