Enquanto Brasil queima, Ricardo Salles se esquiva com informação falsa

Atualizado em 16 de setembro de 2020 às 10:02

Publicado na Rede Brasil Atual

Reprodução

Por Claudia Motta

Entre 2003 e 2016, o desmatamento na Amazônia Legal caiu ano a ano. Dados do Instituto Nacional Pesquisas Espaciais (Inpe) informam que no primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva a chamada taxa era de 25,4 por quilômetro quadrado e foi caindo até o segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, chegando a 7,9 em 2016. No primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, essa taxa já bateu em 10,9 por quilômetro quadrado. E diante das queimadas que tomam a maior floresta tropical do planeta, esse número deve aumentar ainda mais em 2020. Diante do cheiro de queimado no ar, o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, usou informação falsa ao ser confrontado com a paralisia do governo em meio à situação que assombra o Brasil e o mundo.

Em tuíte divulgado nesta terça-feira (15), o ex-presidente Lula criticou a incompetência do governo federal no combate aos incêndios. “Por que nossas Forças Armadas não estão com um grande contingente no Pantanal e na Amazônia para tentar combater os incêndios?”, questionou. “Eles desmontaram todos os mecanismos de prevenção a incêndios. Esse ministro do Meio Ambiente é um cidadão sem caráter e sem respeito pela natureza”, escreveu.

Gestão medíocre

Mais tarde, em entrevista à CNN, ao ser questionado sobre o post do ex-presidente, Ricardo Salles, além de não responder sobre sua responsabilidade ante as queimadas, repetiu o de sempre: “Quem está condenado por corrupção e estava preso ‘até ontem’ é o ex-presidente Lula. Quem roubou o Brasil e com isso nós ficamos sem dinheiro para investir tanto na infraestrutura quanto nas equipes, lembrando que foi no governo dele e do poste dele, a presidente Dilma, que nos legou uma estrutura completamente desmontada, quer seja pela falta de competência, corrupção ou pela falta de caráter que esse grupo que dominava o governo nos deixou”.

Um integrante do Ministério do Meio Ambiente nos governos petistas, que prefere não se identificar, afirmou que a gestão de Salles até agora é que mostram “retrocessos graves” e “insuficiência” de gestão pública. “Esse senhor não sabe nada sobre políticas ambientais de fato. Os resultados da gestão dele são medíocres.”

De acordo com o Inpe, em relatório divulgado ontem (14), as queimadas na área do Pantanal, na região Centro-Oeste, aumentaram 210% neste ano, com Ricardo Salles, em comparação com o mesmo período de 2009. Entre 1º de janeiro e 12 de setembro do ano passado, os focos de calor na região subiram de de 4.660 para 14.489. “Uma tragédia sem precedentes que a Polícia Federal tem de investigar”, afirmou o ex-integrante daquele ministério. “O dano está feito. Teremos de esperar a recuperação da natureza. A biodiversidade impactada e destruída está perdida. Mas meio ambiente se recupera. Vamos ver se a punição ao crime ambiental, se investigado, virá célere”, completou.

Em entrevista do jornal O Estado de S. Paulo, o delegado da Polícia Federal Alan Givigi, afirmou que vê indícios de queimadas deliberadas na região. “As queimadas começaram em fazendas da região, em espaços inóspitos dentro das fazendas, onde não há nada perto, o que nos faz entender que não pode ser acidente. Teoricamente, alguém foi lá para isso (colocar fogo).”

De acordo com a investigação, quase 25 mil hectares dos 815 mil do Pantanal já foram devastados pelas queimadas realizadas durante a gestão de Ricardo Salles.

Alimento para pandemias

Relatório divulgado pela ONU nesta terça-feira aponta que governos de todo o mundo estão falhando em cumprir promessas feitas há uma década, no sentido de proteger a biodiversidade global. Entre os objetivos: a desaceleração do desmatamento, conservação de áreas úmidas (como o Pantanal) e a conscientização do público sobre a importância da natureza para um planeta saudável.  Mas, de acordo com o relatório, governos – como o brasileiro – ainda subsidiam negócios que danificam os ecossistemas.

“Os sistemas vivos da Terra como um todo estão sendo comprometidos, e quanto mais a humanidade explora a natureza de maneiras insustentáveis, mais minamos nosso próprio bem-estar, segurança e prosperidade, alertou Elizabeth Maruma Mrema, secretária-executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CBD), que divulgou o relatório.

Em reportagem do jornal alemão Deutche Welle, cientistas alertam: a perda “sem precedentes” de biodiversidade e a destruição dos espaços selvagens aumentam o risco de doenças de animais migrarem para seres humanos, como ocorreu com a pandemia do novo coronavírus.

“À medida que a natureza se degrada, surgem novas oportunidades para a disseminação de doenças devastadoras, como o novo coronavírus. A janela de tempo disponível é curta, mas a pandemia também demonstrou que mudanças transformadoras são possíveis”, afirmou Mrema.