Enquanto costura anistia a golpistas no DF, Tarcísio vê PCC matar delegado e barbarizar em SP

Atualizado em 16 de setembro de 2025 às 10:09
Diogo Costa Cangerana, Tarcísio de Freitas e Ricardo Nunes no meio de multidão
Diogo Costa Cangerana, ex-segurança do governador Tarcísio de Freitas – Reprodução

Enquanto Tarcísio de Freitas se movimenta em Brasília para costurar uma anistia aos golpistas, São Paulo assiste à escalada do crime organizado.

Na noite de segunda-feira (15), o ex-delegado-geral da Polícia Civil, Ruy Ferraz Fontes, 64 anos, foi executado em Praia Grande. Fontes construiu sua carreira combatendo diretamente o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que o tinha como inimigo declarado. Sua morte foi cinematográfica.

Meses antes, um delator havia sido morto em plena luz do dia no maior aeroporto da América Latina, em Guarulhos. Dois episódios distintos no tempo, mas conectados pelo mesmo fio: a demonstração de força da facção dentro de São Paulo.

Não se trata de casos isolados, mas de um padrão de violência que expõe tanto a fragilidade de Tarcísio e de seu secretário Derrite, quanto a falta de resposta efetiva.

O governo pode estar olhando para o outro lado diante do PCC. É uma incompetência calculada.

Há ligações explícitas entre o PCC e a Faria Lima. As fintechs estiveram no centro da Operação Tai-Pan, deflagrada pela Polícia Federal em novembro de 2024, que abalou o mercado financeiro ao expor um esquema de lavagem de dinheiro bilionário ligado à facção.

Entre os presos esteve o capitão da Polícia Militar Diogo Costa Cangerana, apontado como responsável pela abertura de contas usadas pelo crime organizado. Ele era segurança de Tarcísio. Foi solto em dezembro e reintegrado ao serviço ativo da corporação.

De acordo com o Estadão, Cangerana havia integrado 25 viagens oficiais de Tarcísio nos dois anos anteriores. O militar acompanhou deslocamentos estratégicos, como reuniões em Brasília com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) — Luís Roberto Barroso e Luiz Fux —, com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Tarcísio beneficiou recentemente grandes grupos do agronegócio com a venda de extensas áreas de terras públicas no interior, em condições generosas que chegam a 90% de desconto. Fazendas são usadas para lavar dinheiro. Mas é tudo “para regularizar grilagem”. Tá certo.

Na educação e na segurança, a marca da gestão é a militarização das escolas e a evangelização de policiais. O governo investe em transformar estruturas do Estado em trincheiras ideológicas, enquanto a facção criminosa avança na prática, com execuções feitas para mandar recado.

É bom lembrar que isso ocorre no momento em que os EUA querem transformar o PCC em organização terrorista. O segundo bote com “narcotraficantes” da Venezuela foi bombardeado pelos americanos. O governo Trump retirou nesta terça (16) a certificação da Colômbia como aliada no combate ao narcotráfico, uma medida que não era tomada desde 1997.

Tarcísio segue blindado. Como “candidato da elite”, mantém a proteção de setores econômicos e da mídia tradicional, que evitam contar a história completa. O resultado é um silêncio que, em si, já faz parte do problema.

 

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.