Enquanto esquerda e direita acusam o MPL, a polícia segue batendo. Por Mauro Donato

Atualizado em 15 de janeiro de 2016 às 10:38

mpl - 15:01

 

A teoria da conspiração está presente dos dois lados. O governador Geraldo Alckmin disse que o ‘vandalismo é seletivo’ e estranhou que não tenham ocorrido protestos quando a energia elétrica subiu 70%. O presidente da Assembléia Legislativa, Fernando Capez (PSDB), afirmou que ‘não dá para jogarem tudo no colo do governador, a responsabilidade também é do prefeito’.

Ou seja, tucanos associam as manifestações contra tarifa como sendo na verdade um grupo de esquerda contra o governo paulista. Reinaldo Azevedo também pensa assim, escreve toda a semana sobre isso e seus admiradores endossam, basta ler os comentários.

O prefeito Fernando Haddad demonstrou preocupação com um possível crescimento dos protestos devido à repressão policial, dando a entender que acredita ser isso um jogo para desgastá-lo em ano de eleição e ainda uma progressão que visa as próximas manifestações pró impeachment. Militantes do PT e simpatizantes de Dilma têm certeza absoluta disso.

Resumindo, petistas julgam os ‘coxinhas’ do Movimento Passe Livre de fazerem parte do projeto. Enquanto esquerda e direita buscam o monstro do lago Ness, a PM segue com seus abusos.

Ontem, no terceiro grande ato do MPL, permaneceu a tática do ‘envelopamento’ por parte da polícia. Com a manifestação em movimento porém envelopada da mesma forma. Apreensivos com a expectativa de mais uma carnificina, o Passe Livre cedeu e anunciou o trajeto a ser feito. Algo inédito e também não obrigatório mas atendido.

A partir daí, além dos 3 cordões de policiais que costumam emparedar os manifestantes de determinados movimentos como o MPL (um cordão de cada lado e mais uma enorme quantidade de viaturas e Rocans atrás), uma outra linha dupla de policiais e mais outra linha dupla de Rocans foi na frente. Não só continuaram espremendo a manifestação como ditaram o ritmo que os manifestantes deveriam andar.

E aí as provocações foram se desenrolando: diminuíam o ritmo para que os manifestantes da linha frente ficassem cara a cara com os escudos e próximos o suficiente para favorecer algum contato físico que despertasse uma reação; algum tempo depois as motos davam uma arrancada um pouco mais forte abrindo um espaço muito grande entre imprensa e ativistas; uma bomba como de costume explodiu ao lado dos manifestantes sem que nada estivesse acontecendo (esse truque de infiltrados soltarem uma bomba para provocar uma correria já está tão manjado que ontem finalmente o resultado foi nulo).

Mais uma vez ficou demonstrado que o direito de manifestar-se não é igual para todos. Nem todos os movimentos são ‘acompanhados’ assim, de maneira tão intimidante, com os manifestantes isolados e sem liberdade. Se você quiser ir para calçada não pode, se tentar sair ou entrar no grupo não pode. Todas as ruas transversais ao trajeto possuiam uma tropa alinhada que evitaria uma dispersão. Para que isso?

Assim seguiu a marcha até seu destino, sem maiores incidentes e debaixo de muita chuva. Até que…

A estação Consolação do metrô estava fechada, num claro sinal de provocação. Fechada para que? Para que alguém se exaltasse? Depois de reaberta, houve uma tentativa de catracaço. Houve confronto com os seguranças do metrô, a PM entrou na estação, bombas lançadas, nove detenções ao todo. Os manifestantes que saíram da estação foram atacados com mais bombas e tiros.

Ué, não era um catracaço dentro da estação? Por que a polícia sai tocando o terror do lado de fora? Uma bala de borracha atingiu uma repórter da CBN que estava ao vivo na avenida.

Então é assim: se entrar toma cacetada, se sair toma bomba. Se correr toma tiro, se ficar asfixia. Para alguns movimentos, apanhar da esquerda e da direita não é só no sentido político.