Enrolada na Justiça, a Paraty House dos Marinho está à venda, mas virou um mico. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 26 de março de 2017 às 7:34
A Paraty House
A Paraty House

Esta reportagem foi financiada através de crowdfunding 

 

O triplex da praia de Santa Rita, em Paraty, está à venda. A propriedade é usada pela família Marinho, mas formalmente está em nome de uma empresa controlada por offshore chamada Vaincre.

A Vaincre está relacionada nos Panama Papers, como ficou conhecido o escândalo internacional que revelou um esquema de ocultação e lavagem de dinheiro de sonegadores, corruptos e traficantes de armas e drogas.

A colocação do imóvel para a venda já é conhecida dos barqueiros de Paraty, que passam em frente à mansão quase todos os dias. Um deles disse que o preço pedido é 60 milhões de reais.

Eu presenciei uma conversa de um empresário com o dono de imobiliária do Rio de Janeiro, Rui, que recebeu poderes para negociar o imóvel. O valor é outro: 30 milhões de reais.

O corretor informou ao empresário que o imóvel foi colocado à venda por causa da separação de Paula Marinho, filha de João Roberto Marinho, presidente do jornal O Globo e vice-presidente da Rede Globo, e neta de Roberto Marinho, que ergueu o império de comunicação, hoje um dos maiores do mundo.

Paula não está mais casada com Alexandre Chiapetta de Azevedo.

A mansão também não é mais frequentada como no passado. Segundo os barqueiros, a ida dos proprietários ao local diminuiu muito depois da revelação, pela imprensa independente, de que a construção é ilegal e de que houve desmatamento, apropriação de área pública — a praia –, e a privatização de uma parte do mar, que dificultava o acesso à praia.

A paisagem da praia de Santa Rita também mudou. Depois de passar alguns anos sem cumprir uma determinação judicial, no final do ano passado os proprietários, finalmente, retiraram os brinquedos que estavam instalados na areia e agora mantêm o acesso à praia – que é pública.

O juiz Ian Lagay Vermelho, da Justiça Federal em Angra dos Reis, havia autorizado o uso de força policial para remover os brinquedos, como tubo água e escorrega. Não foi preciso.

No dia 18 de março, quando estive lá, uma escuna atracou e os turistas desceram para conhecer “a praia do Roberto Marinho”, como informou o guia.

Passeios desse tipo eram proibidos no passado por segurança armados e os turistas nem podiam se aproximar da praia, por causa de um cordão de isolamento, sustentado por boias, que simulavam a criação de espécies marinhas.

Os brinquedos na praia foram retirados
Os brinquedos na praia foram retirados

O cordão ainda está lá, mas agora existe um corredor à direita de quem chega, que permite o acesso. Um barqueiro contou que, nas raras vezes em que os proprietários aparecem, a estratégia para manter a exclusividade da praia mudou.

“Eles colocam barcos atracados, um ao lado do outro, em toda a extensão da praia. São barcos grandes e bonitos. Será que eles têm tantos barcos assim?”, comenta um barqueiro.

A venda da Paraty House esbarra em numa grande dificuldade. Na Vara Federal em Angra dos Reis, além do processo criminal que condenou dois laranjas, corre uma ação civil pública que pede a demolição da mansão, do heliponto e da piscina construída sobre a areia.

“A demolição do imóvel é o objeto da ação. O que será decidido é se ele será demolido “, disse o juiz Ian Legay Vermelho. Antes da sentença, porém, o juiz pretende determinar a realização de uma perícia independente, para saber a extensão do dano à natureza, em uma área de rigorosa preservação ambiental.

A Justiça, atendendo ao Ministério Público, ainda busca saber quem são os proprietários, já que, até agora, nos dois processos, só apareceram os laranjas.

Numa situação assim, quem será disposto a comprar algo que, daqui a alguns anos, poderá estar no chão? Todos sabem que uma decisão dessas contra a Globo é dificílima, mas o processo existe. Quem vai correr o risco?