Enteada de Wassef fez evento com Ricardo Salles, ministro de Bolsonaro, e com a Jovem Pan. Por Zambarda

Atualizado em 27 de junho de 2020 às 13:42
Cristina Boner e Wassef passeiam juntos em jet ski
Imagem: UOL/Reprodução

Os jornalistas Eduardo Militão e Constança Rezende publicaram no UOL, no dia 21 de junho, três dias após a prisão de Queiroz, que uma empresa da ex-mulher do advogado Fred Wassef recebeu R$ 41 milhões no governo Bolsonaro.

Eles contaram a história da empresária Cristina Boner Leo e de sua empresa Globalweb Outsourcing.

Embora separados, Cristina e Wassef mantêm uma relação de amizade e o advogado chegou a defender os negócios da ex na Justiça.

Não é a primeira vez que Cristina Boner é notícia em denúncias envolvendo política. No começo dos anos 2000, ela ficou conhecida por contratos sem licitação envolvendo a Microsoft em Brasília.

Em 2012, ela apareceu na lista de 37 denunciados pelo mensalão do DEM.

Durante a Operação Caixa de Pandora, executada pela Polícia Federal no final de 2009, estavam entre os acusados o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda e o ex-vice-governador Paulo Octavio.

O escândalo atingiu também secretários de governo, deputados distritais e membros do Tribunal de Contas do DF.

Dona do Grupo TBA na época, que tem ligação com a Globalweb, Cristina Boner foi acusada de corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

Na reportagem mais recente do UOL, o valor de R$ 41 milhões são referentes a pagamentos efetuados entre janeiro de 2019 e junho deste ano pelo governo Bolsonaro para a empresa de Cristina Boner Leo.

Esses valores pagos à Globalweb em menos de um ano e meio de Bolsonaro já chegam aos pagos à mesma empresa nos quatro anos de Dilma Rousseff e Michel Temer: R$ 42 milhões.

A companhia presta serviços de informática e tecnologia da informação a diferentes órgãos da administração federal, como o Ministério da Educação e o BNDES.

Os contratos que a empresa tinha negociado com governos anteriores foram prorrogados e receberam aditivos de R$ 165 milhões nas mãos de Bolsonaro. O novo governo fechou novos contratos com a Globalweb Outsourcing no valor de R$ 53 milhões.

Tudo isso soma um compromisso de R$ 218 milhões a serem pagos pelos cofres públicos nos próximos anos para a empresa da ex de Wassef.

A enteada que também atua nas empresas da família

Bruna Boner Leo. Foto: Reprodução/LinkedIn

A administradora da Globalweb até o começo deste ano, segundo o LinkedIn, é a filha de Cristina: Bruna Boner Leo.

Diferentes fontes entraram em contato com o Diário do Centro do Mundo para contar a história de Bruna.

Formada em Direito pela FAAP, ela atuou como comercial da Globalweb de 2007 até o início de 2020. A partir de 2014, Bruna Boner também se tornou integrante do Instituto de Formação de Líderes (IFL), que já existia há quatro anos vinculado ao “Fórum de Liberdade e Democracia”.

O IFL tem como mantenedores, até hoje, empresas como Suzano, dos Feffer, e o Instituto Mises Brasil. Em 18 de maio de 2020, o repórter Caíque Lima revelou no DCM que os Feffer financiaram as então candidatas Carla Zambelli e Bia Kicis, mostrando também os comprovantes de pagamento.

Bruna Boner Leo, dentro do IFL, tornou-se diretora de eventos em 2017, diretora do Fórum de Liberdade no ano seguinte e membro do conselho neste ano. Foi graças a ela que, em agosto de 2019, o evento do IFL conseguiu a parceria da Rádio Jovem Pan.

Evento do IFL com a Jovem Pan. Foto: Reprodução

De acordo com a Revista Fórum, uma decisão judicial recente impede Cristina Boner de fazer contratos com o Poder Público. Ela foi decretada em 24 de junho de 2019.

Segundo o processo judicial, houve direcionamento de licitação para a contratação da empresa B2BR, cuja representante na época era Cristina, pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). O valor do contrato era de R$ 9,8 milhões.

Isso, somado ao caso do Mensalão do DEM, levou Cristina Boner a dar progressivamente maior espaço para a participação de sua filha, enteada de Wassef. Ela fundou neste ano uma empresa chamada Grapeway, especialista na implementação de ServiceNow.

ServiceNow é uma empresa americana de Santa Clara, na California, que existe desde 2003 e é especializada em computação em nuvem e fluxo de serviços. A empresa de Bruna Boner seria a intermediária nesse processo.

O evento em Brasília com o ministro

Com a ascensão de Bruna nas empresas da mãe e no IFL, em fevereiro de 2019 o instituto abriu uma filial em Brasília e registrou fotos de eventos e iniciativas no Instagram.

No dia 23 de julho do ano passado, o Instituto de Formação de Líderes em Brasília postou o seguinte:

“Até ministro veio discutir com nossos associados hoje. Esse é o compromisso IFL, agregar cada vez mais valor ao associado. #liberalismo #ifl #iflbsb”

Evento do IFL com Ricardo Salles. Foto: Reprodução/Instagram

O ministro presente no evento era Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente.

Esses eventos do IFL, em 2019, já eram administrados por Bruna Boner Leo dentro da entidade.

“Ela, e essa família, são uma ala muito fiel ao Bolsonaro, mas possuem vínculos com fóruns liberais do grupo do Paulo Guedes”, diz uma das fontes na condição de anonimato.

Cristina Boner Leo, em nome de sua empresa, divulgou nota rebatendo o UOL e o Jornal Nacional.

O DCM entrou em contato com a Globalweb e com o IFL fazendo os seguintes questionamentos:

– Bruna Boner Leo, enteada de Wassef e filha de Cristina Boner, proprietária da Globalweb, foi responsável pelo evento do IFL Brasília com o ministro Ricardo Salles?

– Qual foi o custo deste evento?

– Bruna tem uma atuação grande no IFL como conselheira? Qual o peso de sua atuação?

– Vocês não enxergam conflito de interesses com uma empresária atuando com o governo Bolsonaro?

Até o momento da publicação desta reportagem, não houve resposta. 

O espaço segue aberto para manifestação das partes envolvidas.