Entenda a ligação entre FIFA 18, Star Wars Battlefront 2 e a controvérsia das caixas de azar nos videogames. Por Zambarda

Atualizado em 22 de janeiro de 2018 às 19:42

 

A Electronic Arts (EA) é uma das maiores empresas de desenvolvimento de jogos eletrônicos do mundo, especialmente de títulos terceirizados (“third parties”) e teve um 2017 bom. A companhia americana com sede em Redwood City, na Califórnia, poderia ter um ano brilhante se não fosse por uma controvérsia na indústria internacional de games.

Um de seus grandes lançamentos foi FIFA 18 no dia 28 de setembro que, embora seja mais uma aposta segura no futebol e nos contratos oficiais com a maior corporação do esporte no mundo, trouxe inovações boas para a franquia. Rodando no motor gráfico Frostbite 3 em plataformas como PC, PlayStation 4 e Xbox One, o título fez importantes ajustes gráficos de velocidade e se tornou um game liso nas partidas.

Chutes a gol e passes estão muito mais precisos. Há também comandos na tela para quem não está acostumado com FIFA e a mudança de clima também é sentida. As seleções femininas, uma inovação da série em comparação com seu concorrente japonês PES, foram mantidas. O jogo perde por não ter algumas licenças do Brasileirão e algumas equipes do nosso país são sentidas.

Fora tudo isso, FIFA 18 também chegou no Nintendo Switch, aparelho que foi lançado em março e já chegou a 10 milhões de unidades vendidas, na modesta engine gráfica Impact. A Big N japonesa, a empresa dona do Mario, não contava com um jogo de futebol de alta qualidade há muito tempo. A chegada do FIFA deixou o estande da Nintendo lotado junto com o bem-sucedido Super Mario Odyssey na E3, a maior feira de videogames que ocorre anualmente em Los Angeles nos EUA.

Outro grande lançamento foi Star Wars Battlefront 2 de 17 de novembro de 2017. Trata-se do segundo episódio de um reboot da série em 2015, depois do fracasso da empresa Pandemic com os primeiros títulos nos anos 2000. Como publisher e não desenvolvedora direta de Battlefront, a EA delegou a criação do jogo baseado em Star Wars para uma companhia chamada sueca DICE. O resultado é um game de tiro de alta performance, com muitos elementos adicionais.

Battlefront 2 traz batalhas de naves totalmente imersivas, heróis como Luke Skywalker e Rey, além dos vilões Darth Vader e Kylo Ren. O game ainda trouxe uma expansão online com personagens do novo filme Star Wars Episódio VIII: Os Últimos Jedi. Fora isso, há uma campanha de um jogador com a personagem Iden Versio, militar do Império Galáctico que testemunha a queda do Imperador Palpatine e acaba se convertendo para a causa da Aliança Rebelde na construção da Nova República.

Star Wars e FIFA são grandes títulos. O problema é que os dois esbarraram no escândalo das chamadas “lootboxes”.

A controversa das caixas de azar

Lootboxes são caixas de premiação, que funcionam sobretudo nas modalidades online dos jogos. Toda vez que seu personagem levanta de nível, você ganha acesso a essas caixas e, aleatoriamente, ela te entrega itens que podem melhorar o seu desempenho. Seu funcionamento é como os chamados “jogos de azar” de cassinos: depende de sorte, não apenas habilidade, para se dar bem no game.

A coisa pegou quando a EA colocou no lançamento de Star Wars Battlefront 2 caixas de azar pagas. Ou seja, não basta o cassino que existe no recurso, a empresa embutiu preços para quem quiser itens de maneira mais rápida. Recursos pagos são comuns em games online, sobretudo nos títulos “free-to-play” (gratuitos no download e que trazem um custo em determinados níveis).

No entanto, a ideia da Electronic Arts colocou a companhia em risco. Muitos jovens menores de idade fazem compras online, muitas vezes sem a anuência dos pais. O que eles fizeram, ao liberar as lootboxes pagas, foi abrir espaço para um cassino aberto para crianças, microtransações totalmente irregulares do ponto de vista legal.

Os heróis de Star Wars, por exemplo, poderiam demorar 40 horas para serem liberados dentro do game.

O barulho foi tão grande que, no mês de novembro, as ações da EA despencaram 8,5% no mercado financeiro. As perdas de valor da empresa foram estimadas em US$ 3,1 bilhões.

Mas o escândalo não parou ai. Governos de países se manifestaram contra as caixinhas de azar.

Reação belga e americana

Segundo a PC Gamer, o governo da Bélgica chegou num consenso que as microtransações por lootboxes poderiam ser configuradas como banca de apostas e que a prática “deveria ser banida da Europa”. Os políticos belgas se manifestaram no final de novembro, acentuando as quedas dos papéis da empresa no mercado financeiro.

A Bélgica é um país influente na União Europeia, mas a repercussão não se restringiu aos europeus. Os Estados Unidos também entraram no escândalo.

De acordo com o site Kotaku, o representante do estado do Havaí chamado Chris Lee chamou Battlefront 2 de “cassino com tema de Star Wars”. O congressista ressaltou que a prática é contra a lei por envolver crianças e que esse tipo de recurso precisa ser combatido dentro do mercado de jogos eletrônicos.

A EA voltou atrás depois de perdas bilionárias de mercado. O caso de FIFA 18 foi menos barulhento do que o de Star Wars, mas não menos grave.

Jogadores organizaram um boicote dentro do FIFA ao modo Ultimate Team, que também trouxe a lógica das caixinhas de azar pagas. O caso não chegou a ter uma repercussão internacional se comparado com o jogo do Darth Vader.

Bons games, apesar de tudo

Mesmo com os escândalos, FIFA 18 e Star Wars Battlefront 2 são bem avaliados dentro do mercado. No The Game Awards (TGA), a maior premiação do segmento no planeta, FIFA foi indicado na categoria de Melhor Jogo de Esporte ou Corrida.

O Metacritic de FIFA 18 entre os críticos é 84. Star Wars, atingindo globalmente pelo escândalo, ficou com a nota 68. Apesar das controvérsias, o antecessor FIFA 17 foi o game mais vendido do Brasil em 2016 segundo a GfK, superando o popular Minecraft. O primeiro Battlefront do reboot, de 2015, vendeu 12 milhões de cópias em dois meses no mercado.

Com práticas comerciais controversas, a EA ainda é uma máquina de dinheiro na indústria de jogos eletrônicos.