Entenda os detalhes do escândalo de corrupção do governo Milei

Atualizado em 26 de agosto de 2025 às 15:02
O presidente da Argentina, Javier Milei. Foto: Divulgação

A dois meses das eleições legislativas, o governo de Javier Milei enfrenta um escândalo de corrupção que envolve diretamente seu núcleo mais próximo.

Áudios vazados, atribuídos a Diego Spagnuolo, amigo pessoal do presidente e ex-chefe da Agência Nacional para a Deficiência (Andis), colocaram a irmã de Milei, Karina, e o subsecretário de gestão institucional, Eduardo “Lule” Menem, no centro de um suposto esquema milionário de propinas em contratos públicos de medicamentos.

Nos áudios, revelados pela imprensa argentina, Spagnuolo afirma que Karina era uma das principais beneficiárias do esquema, recebendo porcentagem de contratos superfaturados firmados com a indústria farmacêutica.

“Estão fraudando a minha agência. Estão roubando. Você pode fingir que não sabe, mas não joguem esse problema para mim, tenho todos os WhatsApp de Karina”, diz um dos trechos. Spagnuolo também sugere que o próprio presidente sabia das irregularidades.

De acordo com as denúncias, o grupo cobrava até 8% em propinas sobre contratos, garantindo entre US$ 500 mil e US$ 800 mil por mês. Ela ficaria com 3% a 4% do valor, enquanto Menem, primo do presidente da Câmara, Martín Menem, atuaria como operador político, apoiado por empresários ligados à distribuidora Suizo Argentina, fornecedora de medicamentos ao Estado.

As revelações levaram Milei a agir rapidamente: Spagnuolo foi demitido no dia seguinte à divulgação dos áudios, e a Andis passou a ser controlada diretamente pelo Ministério da Saúde. O diretor Daniel Garbellini, apontado como elo da agência com os empresários, também perdeu o cargo.

Poucos dias depois, uma operação policial apreendeu 266 mil dólares em espécie com Emmanuel Kovalivker, representante da Suizo Argentina. O irmão dele, Jonathan, foragido, se apresentou voluntariamente às autoridades.

Javier Milei e sua irmã Karina Milei. Foto: Divulgação

O caso, apelidado pela imprensa local de “escândalo da Andis”, já está nas mãos da Justiça. Foram recolhidos celulares de Spagnuolo e de outros suspeitos, que estão sendo periciados. Apesar da gravidade das acusações, Milei manteve silêncio público sobre o caso.

Ao lado da irmã Karina, posou sorridente em um evento com empresários, limitando-se a atacar a imprensa, que chamou de “mentirosa e rasteira”, e opositores no parlamento. Ela não se manifestou até agora, mas compartilhou em redes sociais declarações de apoio.

Menem, por sua vez, questionou a autenticidade dos áudios e negou envolvimento em irregularidades. “Conheço o trabalho deste governo contra a corrupção e não duvido da integridade de nenhum dos funcionários mencionados”, escreveu no X. O presidente da Câmara, Martín Menem, saiu em defesa da dupla: “Ponho as mãos no fogo por eles”.

A crise estourou em um momento delicado. A popularidade de Milei caiu para 41%, segundo pesquisas recentes, e o governo tem enfrentado derrotas sucessivas no Congresso, incluindo a reversão de cortes de gastos públicos.

O escândalo também se soma a outros desgastes recentes do governo, como a polêmica envolvendo a criptomoeda $Libra, promovida pessoalmente por Milei antes da posse e que deixou milhares de investidores no prejuízo, além de denúncias sobre empresários que teriam entrado no país com malas não fiscalizadas pela Alfândega.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.