Entenda por que inquérito é armação para Bolsonaro humilhar publicamente Moro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 12 de maio de 2020 às 11:21
Jair Bolsonaro e Sérgio Moro. Foto: Wikimedia Commons

Publicado originalmente no blog do autor

Não há como o inquérito sobre as denúncias de Sergio Moro contra Bolsonaro não dar em nada. Vai dar em alguma coisa. É fácil prever que dará tudo errado para o ex-juiz.

Se o roteiro for cumprido como o planejado, a investigação resultará na humilhação pública de Moro, por obra de Bolsonaro.

Ontem, o delegado Maurício Valeixo depôs e não ajudou na acusação de que havia interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal.

O ex-diretor da PF disse que Bolsonaro queria alguém com quem tivesse proximidade e por isso o mandou embora. Mas isso não significa muita coisa.

Valeixo confirmou o que Moro havia denunciado. Que foi Bolsonaro quem disse que ele, Valeixo, deveria pedir pra sair. Assim, a demissão do policial a pedido foi uma farsa. Mas e daí?

São cinco os delegados que vão depor, inclusive Alexandre Ramagem, o amigo dos manos, barrado para o cargo de chefe da PF por determinação de Alexandre de Moraes.

Vão depor hoje os ministros militares Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

Também será ouvida no inquérito a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), para que explique que história é aquela de propor, em troca da indicação de Moro para o Supremo, que ele aceitasse a substituição no comando da PF.

Ninguém espera nada de revelador de nenhum deles, nem do vídeo em que Bolsonaro diz, na reunião do dia 22, que pode trocar todo mundo na Polícia Federal e, se não conseguir, pode demitir o ministro da Justiça.

O que isso caracteriza? Que Bolsonaro desejava ter o controle absoluto da Polícia Federal. Mas onde estaria a prova da interferência política apontada opor Sergio Moro? E o que quer dizer interferência política?

Todo mundo sabe que Bolsonaro queria mesmo evitar que as investigações perturbassem seus garotos. Mas isso Moro não pode dizer, mesmo porque também nesse caso não há provas.

O que vai acontecer ao final do inquérito, solicitado pelo procurador-geral Augusto Aras, é que tudo será engavetado. Aras não irá denunciar Bolsonaro por coisa alguma.

Porque as suspeitas, os indícios, tudo o que Moro disse não são provas robustas (Moro gostava de repetir essa palavra). Na verdade, não há provas.

E, sem provas, o que poderia sobrar para Moro? A acusação de denunciação caluniosa pelas acusações que fez contra o ex-chefe. Moro poderia ser processado. Mas não será.

E aí está a arapuca preparada pela iniciativa de Augusto Aras, que não iria – ao contrário do que dizem alguns ingênuos – abrir inquérito intempestivamente contra o homem que o indicou para o cargo.

Aras queria expor Moro como fofoqueiro e caluniador, além de agir como traidor. Bolsonaro poderá anunciar ao país seu gesto grandioso: apesar disso tudo, não irá processar o ex-juiz.

Moro será humilhado publicamente por Bolsonaro, como alguém que acusa sem provas. Mas será poupado.

Essa será a humilhação. Sergio Moro ficará marcado, até a eleição, como o sujeito que acusa sem provar o que diz, como já havia feito com Lula.

Na campanha de 2022, a marca de caluniador estará exposta na testa do ex-juiz. Será a vingança de Bolsonaro.