Entenda por que Silvio Santos depende dos telefonemas de Wajgarten para levar Libertadores para o SBT. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 10 de setembro de 2020 às 8:39
De um lado, os filhos do Roberto Marinho. De outro, Bolsonaro e Sílvio Santos

O colunista Flavio Ricco diz em sua coluna no R7 que o SBT já está com a caneta na mão para assinar contrato com a Conmebol e transmitir a Libertadores até 2022.

Para ter direito de exibir dois jogos da competição nas noites de quarta-feira, a rede de TV terá que desembolsar R$ 200 milhões neste ano, considerando que a competição já teve início, e partidas foram transmitidas pela Globo.

Caso assine o contrato, no ano que vem, quando transmitirá a Libertadores desde o início, o SBT terá que pagar mais.

Pelos valores do contrato que a Globo rescindiu, serão mais de R$ 300 milhões por ano.

Este valor corresponde a 30% do faturamento anual do SBT, que é de cerca de R$ 1 bilhão.

Sílvio Santos tem patrimônio suficiente para bancar a despesa, mas ele não é louco de colocar dinheiro do bolso para levar a Libertadores para sua rede de TV.

O milionário apresentador administra o SBT como fazia quando decidiu vender na calçada carteiras para guardar título de eleitor, na segunda metade dos ano 40: não gasta mais do que fatura.

Se não gasta mais do que fatura, como sabe que terá condições de honrar o compromisso com a Conmebol?

“É o telefone de Fábio Wajgarten”, diz um experiente profissional de televisão, que conhece os meandros do departamento comercial.

Wajgarten é chefe da Secom, responsável pela propaganda do governo Bolsonaro, hoje formalmente subordinado ao ministro das Comunicações, Fábio Faria, que vem a ser genro de Sílvio Santos.

“Já aconteceu isso no final do Campeonato Carioca, quando o SBT fez a transmissão no lugar da Globo “, afirma.

Na ocasião, o SBT liderou em audiência no Rio de Janeiro, mais com números 20% inferiores ao que a Globo costumava marcar em transmissão equivalente.

De qualquer forma, foi lucrativo para a emissora de Sílvio Santos: ela faturou R$ 4 milhões e ficou com R$ 1,5 milhão de lucro.

A emissora teve seis patrocinadores, incluindo a Havan do bolsonarista Luciano Hang. Os outros foram Brahma Duplo Malte, Faculdade Estácio, Picpay, Miorrelax e Shampoo Clear.

Se Wajgarten usou o telefone para ajudar o SBT, fazendo contato com possíveis patrocinadores, fica claro que a rede de TV está sendo recompensada pelo governo federal não pelo sorriso de Sílvio Santos, mas pelo que ele tem feito em apoio a Bolsonaro.

Nesta semana, no mesmo dia em que anunciou negociação com a Conmebol, o SBT fez o mercado saber que não renovará o contrato com a jornalista Rachel Sheherazade, que virou na rede social uma das mais duras críticas de Bolsonaro e do bolsonarismo.

Sílvio Santos também divulgou comunicado interno em que afirma que Bolsonaro é seu patrão, como chefe do governo que detém a concessão da rede, e cancelou a exibição do SBT Brasil, para não divulgar a repercussão do vídeo que registrou a reunião ministerial de 22 de abril deste ano.

Nessa reunião, Bolsonaro aparece dizendo que pretendia interferir na Polícia Federal do Rio de Janeiro — o que levou Moro a pedir demissão do governo.

Bolsonaro também falou que pretendia armar a população para enfrentar prefeitos e governadores. Em outras palavras, defendeu a guerra civil.

Se, por um lado, a negociação do SBT com a Conmebol revela a política de comunicação de Bolsonaro, por outro chama a atenção a forma como a Globo entregou a Libertadores sem lutar.

A emissora carioca tentou reduzir os valores de transmissão, em razão da queda de faturamento decorrente da pandemia, mas não conseguiu e, com isso, rescindiu o contrato.

Em tempos de vacas gordas, quando os governos federais enchiam seus cofres de dinheiro — essa prática inclui os governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma —, a Globo jamais desistiria tão facilmente da transmissão de um dos eventos esportivos mais importantes da sua grade.

Some-se a isso a não renovação de contratos com nomes consagrados de seu elenco e se tem como resultado que a emissora carioca passa por um duro processo de ajuste de suas contas. Parece ser prioridade na empresa.

É normal que isso ocorra em tempos de crise, como a da pandemia, mas aquele experiente profissional de TV entende que há um plano mais profundo.

A Globo lidera com folga a audiência na TV aberta e, por isso, seus donos, os três filhos de Roberto Marinho, têm um ativo muito valioso na mão.

Mas seu preço cai muito se houver contas no vermelho. “A Globo dá sinais de que pretende passar seu controle acionário e, por isso, saneia suas finanças”, afirma.

No mercado, há uma conversa antiga de que o bilionário mexicano Carlos Slim, dono da Claro, teria interesse de comprar a Globo.

É uma conversa alimentada pelo antecedente de negócio que envolveu a venda da Net pelos irmãos Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho.

De qualquer forma, não é uma hipótese que se deve descartar. Mas, nesse equação, há uma variável que não pode ser desconsiderada.

A Globo representa uma espécie de blindagem a seus controladores, envolvidos em escândalos de sonegação e lavagem de dinheiro antigos e recentes.

Sem o veículo de comunicação poderoso como a rede de TV, eles se tornariam presas fáceis de agentes públicos em busca de holofotes.

E não seria exagero imaginar carros da Polícia Federal em frente à residência deles. Bolsonaro, certamente, sonha com esse dia.