Entidades entram com notícia crime contra pastor que pregou extermínio de judeus

Atualizado em 18 de julho de 2020 às 17:41
Pastor Tupirani da Hora Lores

Publicado originalmente pela Conib:

A Conib e a Fierj entraram com notícia crime na Polícia Federal contra Tupirani da Hora Lores, pastor, fundador e líder da Igreja Pentecostal Geração Jesus Cristo, com sede no Santo Cristo, no Rio de Janeiro. O pastor, em dois vídeos postados na internet, faz manifestações racistas disseminadoras do ódio e do preconceito contra as pessoas de origem judaica. As ofensas proferidas pelo pastor configuram o crime e racismo (artigo 20, §2º, da Lei 7.716/89) e prevê reclusão de dois a cinco anos e multa.

O primeiro vídeo foi feito durante culto da Igreja Pentecostal Geração Jesus Cristo. Nele, Tupirani da Hora Lores faz afirmações como:

“(…) Como quer que se chamem, judeus, israelitas, nação de Israel ou alguns que dão o título a eles de povo de Deus, descendência de Abraão, de Isaac e de Jacó. (…) julga-os, pisa-os, esmaga-os, Deus, como vermes. Abate, Deus, a sua arrogância e prepotência.”
“(…) Ó, Deus, como Tu fizeste na Segunda Guerra Mundial, Tu tens dito que faria novamente e, se depender do nosso clamor e da nossa oração, justiça, justiça, justiça a esses arrogantes, prepotentes, que até hoje cospem na cara de Jesus Cristo (…)”.

O segundo vídeo, tão repugnante quanto o primeiro, que foi compartilhado nas redes sociais em 29 de junho, traz passagens como:

“Mas eu afirmo pra vocês, Judeus, eu afirmo, oh, povo de Israel, eu afirmo, nação judaica, o que vem pela frente, o segundo Holocausto vai ser pior do que o primeiro. Na atual Era, quando Israel for invadido agora, brevemente, no máximo com 25 anos, Israel será invadido e massacrado. Mulheres, crianças, estupros, esquartejamentos, levantados na baioneta, rios de sangue banharão Jerusalém.”

“Israelitas, se é antissemitismo, como vão chamar, se vão criminalizar, pro inferno! (…) As vossas filhas? Estupradas em rua, em praça pública, à luz do meio dia. Os vossos anciãos? Sofrerão as piores vergonhas nas vossas praças, nas vossas ruas, na porta das vossas casas. Vocês serão massacrados(..)”.

No documento, a Conib e a Fierj ressaltam que não foi outra a intenção de Lores que não a de, por intermédio dos meios de comunicação, praticar, induzir e incitar a discriminação e o preconceito contra as pessoas de origem judaica, tendo chegado mesmo a clamar por um novo Holocausto, no que excedeu qualquer limite imaginável protegido pela liberdade de expressão.

Tupirani da Hora Lores, conforme deixam claro a Conib e a Fierj, responde a várias outras ações penais e inquéritos pela prática reiterada de racismo, já tendo, inclusive, sido preso por isso.

“Estamos diante de um autointitulado líder religioso responsável por praticar e incitar a discriminação num nível assustador e absolutamente inédito para os dias de hoje. De tão repugnante a sua fala, que chega a clamar por um novo holocausto, o assunto virou manchete até em jornais israelenses, como Israel Hayom e The Times of Israel. Já foi preso e condenado por racismo antes, responde a diversas ações penais e segue propagando discursos de ódio sem nenhum respeito às leis ou à justiça. Ontem, levamos o assunto à Polícia Federal e comunicamos o fato à Embaixada de Israel, para a inclusão de seu nome na lista de pessoas que cometeram crimes contra o povo judeu”, disse Ricardo Sidi, membro do departamento jurídico da Conib e advogado criminalista da Fierj.

“Recebemos diversas manifestações de membros da comunidade judaica, em razão de se sentirem profundamente ofendidos com manifestações proferidas por este pastor, nos vídeos e decidimos agir imediatamente. Este discurso de ódio, antissemita, que reforça estereótipos pejorativos, deve ser severamente combatido”, disse o diretor de Segurança Institucional da Conib, Octávio Aronis.

O presidente da Fierj, Arnon Velmovitsky, declarou: “Temos que combater toda e qualquer manifestação antissemita, buscando preservar os nossos valores fundamentais, de respeito à liberdade de culto e de expressão, fundamentais no regime democrático”.

“O ressurgimento do antissemitismo, de forma organizada e letal em sociedades democráticas e livres, é um fato preocupante. Nós temos a obrigação de estar na linha de frente da promoção do entendimento, por um lado, e no combate incansável ao ódio e à intolerância, por outro. Não aceitaremos, de forma alguma, a normalização do antissemitismo em nosso país”, afirmou o presidente da Conib, Fernando Lottenberg.