Entregador agredido no Rio pedala 12 horas por dia e diz que não quer acordo: “Quero Justiça”

Atualizado em 12 de abril de 2023 às 12:05
Entregador Max Ângelo dos Santos. Foto: Reprodução

O entregador negro Max Ângelo dos Santos, agredido por uma ex-atleta de vôlei no último domingo (9), trabalha há um ano e meio em aplicativos de entrega e pedala diariamente na zona sul do Rio de Janeiro.

Em entrevista ao UOL, o entregador relatou a sua rotina e afirmou que não quer nenhum acordo judicial, apenas que a agressora pague integralmente pelos crimes sob investigação. A nutricionista e dona de uma escolinha de praia no Leblon, Sandra Mathias Correia de Sá é acusada de injúria racial e lesão corporal.

Imagens mostram Sandra puxando a camisa e dando socos no entregador. Em seguida, ela pega a guia da coleira do seu cachorro e dá uma chicotada nas costas dele.

“Eu fui humilhado. Quis me afastar e não quis revidar, mas se eu boto a mão nela, hoje eu estaria em [um presídio de] Bangu, porque ela iria alegar que eu a agredi. Não quero que aconteça com outra pessoa, quero justiça”, afirmou Max Ângelo.

O episódio ocorreu em São Conrado, na zona sul do Rio, em frente à loja em que Max trabalha. A nutricionista reclama que os entregadores andam de moto sobre a calçada e manda os funcionários voltarem para a favela.

Ex-atleta de vôlei e nutricionista Sandra Mathias Correias de Sá. Foto: Reprodução

A ex-atleta foi intimada a comparecer nesta quarta-feira (12) à 15ª Delegacia de Polícia (Gávea).

“O trabalho é muito cansativo. Para vir alguém e me xingar? Não é certo. Eu saio de manhã todos os dias, em sol e chuva, e minha única fonte de renda é o aplicativo”, disse.

Max conta que pedala no mínimo 12 horas por dia, podendo chegar a 16 ou 18 horas. Segundo o entregador de 36 anos, os aplicativos se tornaram a principal fonte de renda quando ele ficou desempregado. Antes, trabalhava como porteiro e fazia entregas somente nas horas vagas.

Sem moto, ele precisou recorrer a bicicleta. “Para mim é muito cansativo. Às vezes pego uma entrega muito longe, levo de 15 a 20 minutos para chegar e o mesmo tempo para voltar. Quando o movimento está fraco, vou pro Leblon, Ipanema, Copacabana ou Botafogo. De bicicleta é cansativo”, afirmou.

Casado e pai de três filhos, o entregador disse que as crianças viram o vídeo, mas que ainda não teve uma conversa longa com os filhos por conta da rotina de exames no IML (Instituto Médico Legal), depoimento à Polícia Civil e entrevistas.

O entregador decidiu publicar as imagens das agressões após uma noite inteira sem dormir. “Sabemos que o racismo não vai acabar, existem muitos racistas, mas se as pessoas denunciarem o que acontece, pelo menos pode diminuir”, disse.

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