Entrevista da mãe do menino estuprado e morto por Suzy encerra o assunto: o que a Globo fez é indefensável. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 10 de março de 2020 às 7:57
A mãe do menino estuprado e assassinado por Suzy

Um programa de TV sensacionalista — o do Sikera, da RedeTV! — aproveitou o vacilo da Globo e colocou a mãe da vítima da trans Suzy para falar sobre a dor da perda do filho.

Teve até abraço do repórter.

“O que mais indignou a senhora nesta reportagem”, pergunta o jornalista à mãe do menino Fábio, assassinado e estuprado em 2010 por Suzy.

“Foi ele receber um abraço, receber cartinha e ainda receber um bombonzinho na prisão. Eu recebi o quê? Estou me levantando, porque Deus está comigo”, disse ela.

No vídeo sobre a reportagem que deputados de direita estão divulgando, não é apresentado o nome da mãe, só a imagem e as palavras chocantes e irrefutáveis.

Globo expos Dráuzio Varella a uma situação indefensável.

O abraço que Dráuzio deu em Suzy é um gesto humanitário e que merece divulgação.

Mas quem assistiu foi induzido a uma interpretação equivocada.

É compreensível a razão pela qual Suzy não recebe visita da própria família.

Além do caso do crime hediondo que foi estuprar e matar uma criança, Suzy ainda responde pela acusação de molestar o sobrinho, quando este tinha 5 anos.

Atribuir a solidão de Suzy à transfobia, como a Globo fez, é jornalisticamente desonesto, porque não contempla a variável do crime hediondo.

Gerou uma campanha de solidariedade à Suzy, inclusive com vaquinha virtual para comprar bombom, mas seria interessante saber se quem contribuiu faria isso novamente.

Quanto à TV e a reação dos deputados de extrema direita, não há preocupação alguma com a mãe ou solidariedade à sua dor.

É só uma campanha que usa o sangue de uma criança para atingir dois alvos: Globo e Dráuzio Varella.

Eles poderiam ter evitado esse constrangimento — para dizer o mínimo.