A possibilidade de Jair Bolsonaro conceder a primeira entrevista desde que foi preso abriu um novo racha em seu entorno político e familiar. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e os advogados do ex-presidente se posicionaram contra a conversa, enquanto o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) defende a entrevista, marcada com o portal Metrópoles para o dia 23.
A entrevista foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, após pedido da defesa. Segundo interlocutores ouvidos pela coluna de Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo, o próprio Bolsonaro escolheu o veículo para a conversa, o que acelerou as discussões internas sobre os riscos jurídicos e políticos da exposição pública.
Advogados avaliam que a entrevista pode prejudicar a situação processual do ex-presidente. O principal temor é de que Bolsonaro, mesmo sem intenção, faça declarações que possam ser usadas contra ele. Isso poderia afastar a possibilidade de um relaxamento do regime prisional, considerado prioridade pela defesa neste momento.
Outro ponto sensível envolve o estado de saúde de Bolsonaro. Integrantes da equipe jurídica avaliam que Moraes poderia interpretar que alguém em condições de conceder entrevista também teria condições de continuar cumprindo pena no regime atual, enfraquecendo o pedido de prisão domiciliar.
Há ainda divergências políticas dentro da família. Michelle não é entusiasta da candidatura de Flávio em 2026, embora manifeste apoio público. Uma declaração explícita do ex-presidente endossando o filho tornaria a candidatura praticamente irreversível, o que gera resistência nos bastidores.
Aliados também avaliam o impacto simbólico da entrevista. Parte do grupo teme que Bolsonaro apareça fragilizado diante do eleitorado, comprometendo a imagem de força que sempre sustentou junto à base mais fiel.
Ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, o advogado Fábio Wajngarten se manifestou publicamente contra a entrevista. “Sou contra. Só há um único objetivo nesse momento: mudar o presidente para a domiciliar para que seja melhor cuidado e tenha tratamento minimamente adequado, permanecendo com sua família. Não é hora de falar nada”, escreveu.
Apesar das pressões, Bolsonaro manteve até agora a data da entrevista.