Um extenso conjunto de documentos do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, divulgado sob ordem do Congresso, detalha as investigações sobre abusos sexuais e tráfico praticados pelo bilionário Jeffrey Epstein. A BBC News Brasil teve acesso a milhares de anotações manuscritas de um depoimento ao FBI de maio de 2019.
O documento, intitulado “Entrevista de [informação tarjada]”, contém trechos censurados que impedem a completa identificação dos envolvidos, mas revelam critérios para a seleção de vítimas. Em um deles, o depoente diz que Epstein “não queria garotas escuras”.
Epstein é citado como “JE” no documento e o depoente afirma que ele tinha uma rejeição explícita a “spanish or dark girls” (“meninas hispânicas ou de pele escura”). O relato descreve uma pessoa de “aparência amazônica” que teria sido “trazida no final, em momento de desespero” quando os acusados estariam “ficando sem garotas”.
A conexão com o Brasil aparece em outras anotações. Uma menção descreve alguém que “teria acabado de vir do país” e “era modelo”, afirmando que Epstein “realmente estava apaixonado por ela”. Uma nota lateral acrescenta um dado perturbador: “Vivendo com a mãe aos 13, saiu de casa aos 14”.
O arquivo também inclui fotos com legendas que mencionam uma “festa brasileira” e um “desfile brasileiro”, mas as tarjas ocultam detalhes identificadores. O criminoso também enviou um parceiro, o ex-agente de modelos francês Jean-Luc Brunel, também acusado de tráfico de mulheres, ao Brasil para encontrar modelos.
Brunel, que foi encontrado morto em uma prisão em Paris, na França, em 2022, foi detido após acusação de estupro contra jovens com idades entre 15 e 18 anos no país.
Além dos critérios raciais, o documento confirma a preferência de Epstein por menores de idade. Um trecho relata que ele pedia documentos de identidade para “se certificar de que tinham menos de 18 anos”, após ficar desconfiado porque alguém teria “bagunçado tudo ao levar garotas mais velhas”.