Equipe de Guedes fortalece discurso de Bolsonaro. Por Helena Chagas

Atualizado em 14 de maio de 2020 às 14:15
Bolsonaro e Guedes

Publicado originalmente no site Os Divergentes

POR HELENA CHAGAS

O presidente Jair Bolsonaro ganhou da equipe de Paulo Guedes um reforço considerável para seu discurso contrário ao isolamento social. Embora o próprio Guedes tenha defendido a quarentena há algumas semanas, é nítido agora o esforço do Ministério da Economia para oferecer argumentos que sustentem sua flexibilização e a reabertura da economia. Essa investida começou com o anúncio de uma estimativa de redução do PIB deste ano em 4,7% – e contraste com a projeção de crescimento de 0,02% do próprio governo apresentada há menos de dois meses.

Além disso, o secretário de Polícia Econômica, Adolfo Sachsida, divulgou estudo que aponta perda de R$ 20 bilhões no PIB a cada semana de isolamento. O secretário até tentou dizer que a apresentação da conta da quarentena não teve “conotação crítica”. Mas ela obviamente faz parte de uma estratégia que dá sustentação à narrativa repetida diariamente por Bolsonaro, quase sempre com frases meio desconexas e pouca consistência argumentativa. Agora, ele ganhou números para citar.

Do ponto de vista de Paulo Guedes, a mudança de posição sinaliza uma reaproximação com o presidente. Depois de amargar um período de esvaziamento, quando sua saída do governo chegou a ser dada como certa entre políticos e agentes do mercado, o ministro voltou a ser prestigiado pelo chefe – que, depois das ruidosas demissões de Sergio Moro e Henrique Mandetta, não podia correr o risco de um terceiro desgaste do tipo. Bolsonaro prometeu vetar as exceções incluídas pelo Congresso no congelamento dos salários do funcionalismo e reafirmou várias vezes que quem manda na economia é Guedes.

Ninguém sabe, dentro e fora do governo, quanto tempo vai durar esse estado de coisas. Mas a entrada do Ministério da Economia, ao lado do presidente, na guerra em torno da suspensão do isolamento preocupa governadores, prefeitos e políticos em geral, que, com 749 mortes diárias e serviços de saúde em colapso, não vêem condições de ceder e flexibilizar.