Esta era a posição em que o Paulo Nogueira ficava na porta da sua sala, na redação da EXAME. Assim, ele observava tudo e sabia o que cada um dos repórteres, editores, fotógrafos, designers estava fazendo. E cobrava o melhor de cada um – SEMPRE. Era difícil vacilar ou blefar com o Paulo Nogueira.
Um minuto, por favor.
Tenho que suspirar.
A legenda da fotografia quase me derruba, como o sino da meninice da fazenda de Ribeirão fez com meu tio João Paulo quando ele o reviu tantos anos depois.
A legenda é da própria autora da foto, Bia Parreiras.
Bia tinha tomado a decisão de me fotografar depois de ver um auto-retrato catastrófico meu em Paris. Relatei isso já num texto. Numa estada minha em São Paulo, ela fez as fotos. Me cobrou, como minha mãe, que fizesse a barba. Não fiz. Mas aparei. E apanhei minhas melhores roupas, a começar por um paletó Armani pelo qual paguei, num impulso único na vida, uma pequena fortuna, numa loja no Shopping Iguatemi.
Bia enxergou na pose, em que fiz cara de bravo de propósito, ecos de minha passagem pela Exame. Gostei. Minhas duas temporadas profissionais prediletas, até aqui, foram a Exame, nos anos 90, e Londres, recentemente.
Em ambas as ocasiões, consegui a mistura mágica. Que é trabalhar se divertindo, ou se divertir trabalhando.
Nos anos da Exame escrevi muito, reescrevi mais do que gostaria, fiz muitas chamadas de capa, treinei muita gente. Mas também corri de kart, joguei futebol, saí com os amigos. Este não é um espaço para assuntos íntimos. Basta dizer que uma vez, naqueles dias, fui jogar futebol no campeonato interno do clube e um jogador do meu time se queixou: “Porra, Pita, parece que você acabou de xxxxx duas vezes seguidas!” Era verdade. (Pita era meu apelido por ser canhoto como um jogador da época chamado Pita.)
Cheguei a escrever textos sobre nossas disputas no kart, como se fossem de verdade para uma imaginária seção de esportes de alguma publicação.
Paulo Cardoso, da seção de Arte, dava acabamento jornalístico aos textos. Imprimia um ou dois exemplares e eles circulavam por nós pilotos — Berê, Camarinha, Salô o Profissional Lento, o próprio Paulinho. Você pode achar que é má vontade, mas não é: uma vez Nelson Blecher foi correr conosco e rodou mais de uma vez na reta. Nunca mais voltou às pistas, rejeitado pelos karts.
Tenho lembranças nítidas das corridas, travadas muitas vezes em brechas do expediente. Berê não deixava ninguém passar, mesmo quando o fiscal lhe dava bandeira azul. Camarinha corria com o peito encostado na direção, e olhava para trás constantemente com medo de que eu passasse. Salô, profissa, não criava problemas para chefes que queriam vencer a corrida. Abria espaço imediatamente. Paulinho era esforçado, mas basicamente lento. Seu melhor momento era quando paginava os textos sobre as corridas.
Rimos, rimos e ainda rimos. O único estresse momentâneo foi uma vez, numa pista perto do Ceasa, em que dei o famoso “toque que tira” em Camarinha e ele atribuiu ao inocente Berê. Capacate sob os braços, ele foi depois cobrar satisfações.
Tensão houve uma, quando Berê capotou. Gozei-o durante algum tempo dizendo que ele só se reergueu depois de pedir e receber do dono da pista um copo de água com açúcar.
Gostaria, em algum momento, de lecionar como meu pai. Técnica de redação, talvez. Uma vez por semana. Se isso acontecer, a primeira coisa que vou dizer para meus alunos é: busquem um trabalho divertido, meus chapas. Vocês não imaginam como é bom.