Erdogan diz a Biden que reconhecer o genocídio armênio afetará relações entre os dois países

Atualizado em 26 de abril de 2021 às 17:06
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan na capital Ancara. Em 12 de abril de 2021. Adem Altan AFP

Publicado no site da RFI

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, pediu nesta segunda-feira (26) ao presidente americano, Joe Biden, para que volte atrás em sua decisão de reconhecer o genocídio armênio, em 1915, pelo Império Otomano. Ancara acusa Washington de enfraquecer as relações entre os dois países com esta iniciativa que ele classificou como “infundada e errônea”.

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“O presidente dos EUA fez comentários infundados, injustos e irrealistas, reconhecendo o genocídio armênio”, disse Erdogan aos jornalistas, após presidir uma reunião de seu governo, em Ancara.

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“Acreditamos que essas observações foram incluídas na declaração [de Biden] após a pressão de grupos armênios radicais e círculos antiturcos”, completou, antes de dizer que “isso não muda o impacto destrutivo dessas observações nas relações entre os dois países”.

Foi a primeira reação pública da Turquia em relação ao anúncio feito no sábado (24) pela Casa Branca. Erdogan ainda apelou aos Estados Unidos para “se olhassem no espelho”.

“Se você está falando sobre genocídio, precisa se olhar no espelho. Nem preciso mencionar os nativos americanos. Já sabemos disso. Quando tudo for conhecido, você não poderá acusar a nação turca de genocídio”, afirmou Erdogan em mensagem para Biden. “As acusações de genocídio são tão sensíveis que não podem ser usadas para fins políticos”, acrescentou.

Apesar das críticas, Erdogan disse estar “convencido” de que a reunião marcada para junho com Biden, à margem da cúpula da Otan, em Bruxelas, ofereceria uma oportunidade de aliviar as tensões entre os dois países.

O presidente turco acrescentou que esperava “abrir um novo canal” nas relações entre a Turquia e os Estados Unidos e discutir todos os pontos de desacordo com Biden, em junho.

Genocídio reconhecido por mais de 20 países

Biden se tornou o primeiro presidente dos Estados Unidos a chamar de “genocídio” a morte de 1,5 milhão de armênios massacrados pelo Império Otomano, em 1915, irritando a Turquia.

O genocídio armênio durante a Primeira Guerra Mundial por tropas otomanas, aliadas da Alemanha e do Império Áustro-Húngaro, é reconhecido por mais de 20 países e por muitos historiadores, mas é contestado pela Turquia.

A Turquia, resultante do desmantelamento do império Otomano, em 1920, reconhece os massacres, mas rejeita o termo genocídio, evocando uma guerra civil na Anatólia, associada a uma grave fome, na qual 300.000 a 500.000 armênios e muitos turcos foram mortos.

O Ministério das Relações Exteriores da Turquia convocou o embaixador dos Estados Unidos no sábado (24), em protesto contra a posição dos EUA, informou a agência de notícias estatal Anadolu.

A Turquia “não tem lições a aprender de ninguém sobre sua história”, havia dito, anteriormente, o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu.