Eric Clapton, a moeda e as pandemias de ignorância. Por Moisés Mendes

Atualizado em 15 de junho de 2021 às 9:47
Eric Clapton no British Summer Time. Foto: Divulgação

Publicado originalmente no Blog do autor:

Por Moisés Mendes

As moedas grudam nos braços onde a vacina contra a Covid foi aplicada, por causa da ação do magnetismo do chip comunista. E as mulheres que foram imunizadas serão estéreis para sempre, se não virarem jacarés antes.

A pandemia imbecilizou o mundo, e agora um dos propagadores de idiotias se chama Eric Clapton. Uma celebridade mundial compete com a idosa do vídeo com a moeda grudada no braço, que circula pelo mundo como mais uma descoberta brasileira.

Uma mulher, por desinformação ou por crueldade dela e de mais alguém, pode ser personagem de um vídeo para assustar o mundo com um chip que vem da China dentro da vacina para controlar nossas mentes.

A senhora, coitada, até pode, porque muita gente quer acreditar em alguma coisa que deprecie a vacina. Mas Eric Clapton acreditar que a vacina pode danificar, ao invés de fortalecer, seu sistema imunológico, e que as mulheres ficarão estéreis, aí é dose única de imbecilidade. De onde ele tirou isso?

E somos então levados a pensar o seguinte. Uma senhora incauta, que se presta a fake news, está entregue a todo tipo de manipulação e enganos e pode ajudar parentes a produzir mentiras. Mas Eric Clapton está entregue a quê?

Talvez seja melhor simplificar e pensar assim. O inglês é absurdamente genial, mas a cada fala revela cada vez mais que é apenas isso. Eric Clapton canta e toca guitarra. E acredita no que Bolsonaro acredita. Como pessoa, ele não é melhor do que um Carluxo.

Eric Clapton não tem a grandeza de um Roger Waters ou de um Chico Buarque e nunca seria um John Lennon. Porque é um artista de exceção, mas um cidadão mediano, um sujeito que acredita nas crendices que um bolsonarista acredita.

Não dá pra exigir muito de todos os artistas. A maioria é artista, apenas isso, como Eric Clapton e Juliana Paes.

Respeitar a ciência e os esforços dos cientistas, e mais ainda em momentos graves, não é apenas questão de inteligência, mas de empatia e de militância contra as trevas.

No outro lado, entre os que acreditam em chips nas vacinas, o desrespeito é a ignorância associada a crueldades, racismo, ódio, xenofobia. É a mais ampla de todas as ignorâncias associada a um caráter que apenas se revela nessas horas.

Não é a ignorância do ignorante clássico, do sujeito incapaz de discernir o que é certo e errado em questões básicas de qualquer área, por estar alienado e afastado das informações, deliberadamente ou não.

Essas figuras, os completos ignorantes, são cada vez mais raros. O ignorante do século 21 é um Eric Clapton, capaz de hipnotizar multidões com uma guitarra e, ao mesmo tempo, dizer as mesmas asneiras de Olavo de Carvalho.

Por quê? Porque a diferença entre Olavo de Carvalho e Eric Clapton é que Olavo não toca guitarra. Porque Eric Clapton também é racista, xenófobo e negacionista tanto quanto Olavo.

Eric Clapton e Juliana Paz (sim, eles são da mesma turma, mesmo que apenas ele seja gênio) são cidadãos alienados em relação a tudo que os cerca.

É deliberado, eles decidiram que serão assim e ostentam essa alienação. Eric Clapton é o Pelé da guitarra, e até nisso eles são parecidos.