Escândalo das joias de Bolsonaro lança novas suspeitas sobre tráfico de cocaína em aviões da FAB

Atualizado em 13 de agosto de 2023 às 9:20
O segundo-sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues, que traficou cocaína em avião da FAB

A dois dias do fim do mandato, Jair Bolsonaro deixou o país rumo a Orlando com Michelle, alguns estafetas e joias desviadas do acervo da Presidência.

As investigações da Polícia Federal apontam a existência de um esquema para desviar presentes recebidos em viagens oficiais. O objetivo: “posterior venda e enriquecimento ilícito do ex-presidente”.

O relatório fala em peças “evadidas do Brasil” no avião da FAB, como duas esculturas douradas e um conjunto de joias em ouro rosé, com caneta, anel, abotoaduras, rosário árabe e relógio.

Quem operava o contrabando era o ajudante de ordens Mauro Cid, que contava com o “apoio logístico” de seu pai, o general da reserva Mauro César Lourena Cid. Maurão guardou US$ 25 mil em espécie para ser entregues a Bolsonaro.

“Quanto menos movimentação em conta, melhor”, anotou Mauro Cid. Como se sabe, a família trabalha com grana em cash.

O esquema nos intestinos do governo levanta uma suspeita óbvia: isso não foi feito apenas com joias. Os militares facilitaram algo mais?

Em maio, o ministro Carlos Vuyk de Aquino, do Tribunal Pleno do Superior Tribunal Militar, derrubou uma decisão de primeira instância e aceitou a denúncia por lavagem de dinheiro contra o ex-sargento da FAB Manoel Silva Rodrigues.

Rodrigues fora preso em 2019, na Espanha, com 37 quilos de cocaína dentro de um avião oficial que servia de apoio ao que levava o presidente.

A droga, avaliada em R$ 6,3 milhões, decolou de solo brasileiro em um voo oficial graças a uma “falha de segurança” nos procedimentos da base aérea. Essa é a explicação oficial.

O Le Monde chamou o caso de “Aerococa” e a lambança toda de “Bolsonarcos”. O então presidente fingiu indignação: era “brincadeira” a tentativa de vinculá-lo ao crime.

É o padrão. Em abril, Michelle jurou não ter “nada a ver” com o trambique das joias. Seu marido alegou que “nada foi escondido”. Ela terá os sigilos fiscal e bancário quebrados. Ele dificilmente escapará de um mandado de busca e apreensão e, depois, da prisão.

No fim do ano passado, o sargento Manoel e sua mulher Wilkelane Nonato Rodrigues foram indiciados pelo Ministério Público Militar por tráfico de drogas e por lavagem de capitais.

A denúncia de lavagem de dinheiro retornará à esfera que o julgará por tráfico (há evidências de outros transportes de drogas) e que já representou uma condenação ao ex-militar (catorze anos de prisão, pelo episódio específico na Espanha), disse a Veja.

Segundo a PF e o MPM, a primeira viagem nacional suspeita do sargento aconteceu em 18 de março de 2019. Era uma missão de Brasília para São Paulo. Manoel e a mulher estavam com contas atrasadas.

Bolsonarista fanático, de fazer arminha com as mãos, Manoel estava entre os militares que seguiram Bolsonaro em viagem à capital paulista para a realização de exames médicos.

Entre 18 e 20 de março, houve mais uma missão de transporte do “escalão avançado” da Presidência.

Acompanhante de Bolsonaro na viagem ao Japão para participar do G20, o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, general Augusto Heleno, lamentou a “falta de sorte” do flagrante de cocaína em conversa com jornalistas.

“Podia não ter acontecido, né? Falta de sorte ter acontecido justamente na hora de um evento mundial. Acaba tendo uma repercussão mundial que poderia não ter tido. Foi um fato muito desagradável”, disse o hoje desaparecido Heleno na frente do hotel onde estava hospedado, em Osaka.

“Se mudar a imagem do Brasil por causa disso, só se a gente não estivesse sabendo da quantidade de tráfico de droga que tem no mundo. É mais um.”