Escritores que amo: Rubem Braga (quarto de uma série)

Atualizado em 22 de junho de 2011 às 11:41
Estilista soberbo

Rubem Braga fez como ninguém poesia em prosa no Brasil. Foi o único escritor a entrar para a história da literatura brasileira unicamente pelas suas crônicas. Foi de uma fidelidade comovente a elas. Jamais as trocou por romances ou mesmo contos.

Com as pequenas pedras da crônica Rubem construiu uma catedral.

Lírico, melancólico, romântico, espirituoso, essas eram as marcas centrais do estilo de Rubem. Era um escritor que você podia caracterizar como de esquerda, não pela militância tão comum em seus dias, mas pela raiva que sentia da desigualdade social e pela imensa simpatia que dedicava aos desfavorecidos. Um homem de uma das suas histórias está com sua namorada. Ambos são jovens e humildes. Uma mulher rica e esnobe passa pelo casal e ele deixa  escapar, automaticamente: “aquela vaca”.

Os textos de Rubem estão espalhados, como é tão comum entre os cronistas. Mas há uma coletânea da Record – 200 crônicas – que reúne o melhor dele e enobrece qualquer biblioteca.

Nascido em Cachoeiro do Itapemirim, floresceu no Rio – cujos anos dourados, as décadas de 1940 e 1950, cantou em suas crônicas.

Sempre recomendei a leitura atenta de Rubem Braga a jovens jornalistas interessados em apurar a maneira de escrever. Pouca gente juntou palavras  em português de forma tão bela.  Machado de Assis, Eça de Queiroz, Nelson Rodrigues – e vamos ficando por aí.

O fascínio que Rubem e sua prosa exerciam sobre as mulheres pode ser observado em seus relatos sentimentais.  Teve muitas mulheres, entre as quais se destacou a atriz Tônia Carrero, uma das maiores belezas de sua época. Mas foi, fundamentalmente, um solitário.

Encarou a morte com a naturalidade de um filósofo.  Estava morrendo de câncer no pulmão quando foi a uma casa funerária encomendar um caixão.  O funcionário que o atendeu perguntou para quem era, e não foi sem surpresa que ele soube que era para o próprio cliente ali à sua frente.

Como Montaigne com seus Ensaios, você pode abrir Rubem em qualquer página e iniciar a leitura – da qual há grandes chances que saia encantado.