Especialistas estimam 25% de subnotificação: Brasil teria mais de 600 mil óbitos por covid-19

Atualizado em 8 de junho de 2021 às 21:14
Trator abre covas para mortos por Covid-19, em Manaus Foto: MICHAEL DANTAS/AFP / MICHAEL DANTAS/AFP

Da Rede Brasil Atual:

O Brasil registrou hoje (8) mais 2.378 mortos por covid-19 nas últimas 24 horas. Com o acréscimo, são 476.792 vítimas do coronavírus desde o início do surto, em março de 2020. Já os novos casos registrados no período foram 52.911. Com isso, o país chega à marca oficial de 17.037.129 infectados. Trata-se do segundo país do mundo com mais mortes, atrás dos Estados Unidos, além de o terceiro com mais casos, sendo superado, além dos norte-americanos, pela Índia.

Os números oficiais são informados pelos estados e consolidados pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Esses dados são defasados, como apontam cientistas e reconhecem autoridades. O Brasil vive uma subnotificação de casos e mortes, já que testa sua população pouco e mal. A realidade confronta a mentira que o presidente Jair Bolsonaro disse ontem. Ele afirmou para apoiadores que metade das mortes apontadas não seriam por covid-19, e que haveria um relatório do Tribunal de Contas (TCU) a respeito. Ele foi desmentido no mesmo dia pelo órgão e admitiu a informação falsa hoje.

Mortes em excesso
Até o início de maio, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontava uma defasagem de 114 mil mortes nos dados oficiais sobre a covid no Brasil. Mortes provocadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) e não contabilizadas como covid-19, pela falta de testes e laudos clínicos. Se levados em conta, sem contar o último mês, as vítimas brasileiras da infecção estariam acima das 590 mil.

O Conass também divulgou um levantamento na última semana sobre as chamadas “mortes em excesso” no ano de 2020. A partir de dados dos registros de óbitos em cartório, o levantamento identificou 22% a mais de óbitos do que o esperado para o ano. “O excesso de mortalidade em 2020 foi de 22%. Em números absolutos, foram identificadas 275.587 mortes a mais do que o esperado”, aponta a entidade.

Já em abril deste ano, o excesso de mortes foi ainda superior. Morreram 64% mais pessoas do que o esperado, considerando-se dados de anos anteriores. “O excesso de mortalidade entre 1 de janeiro e 17 de abril deste ano no Brasil foi de 64%. Isso representa 211.847 mortes a mais do que o esperado para o período, sendo homens e a população de até 59 anos (em geral) os mais afetados.”

Riscos
Também hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstrou, , em coletiva de membros da entidade, grande preocupação com a realização da Copa América de futebol no Brasil. “Aconselharíamos que qualquer país que vá realizar tal reunião em massa, especialmente no contexto da transmissão comunitária, seja extremamente cauteloso em garantir que haja um gerenciamento de risco adequado”, disse o Diretor de Emergências da entidade, Michael Ryan. “Se essa gestão de risco não pode ser garantida, então certamente os países deveriam reconsiderar suas decisões de hospedar ou realizar qualquer reunião em massa”, completou.

Enquanto a OMS manifestava posicionamento contrário ao torneio, na CPI da Covid o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmava que governadores e o presidente estão cientes dos riscos que envolvem a realização da Copa América no Brasil. O tema, que virou questão de honra para o Planalto, será julgado em caráter de extrema excepcionalidade pelo STF, na quinta-feira (10).