Espiões dos EUA souberam em junho que Prigozhin planejava ação na Rússia, diz Washington Post

Atualizado em 25 de junho de 2023 às 10:13
Prigozhin, líder do Grupo Wagner, com dois de seus mercenários

Agências de espionagem dos EUA obtiveram informações em meados de junho indicando que o chefe mercenário do Grupo Wagner, Yevgeniy Prigozhin, estava planejando uma ação armada contra o comando de defesa russo, que ele há muito acusa de atrapalhar a guerra na Ucrânia, diz o Washington Post.

Alguns trechos da matéria:

A natureza exata e o momento dos planos de Prigozhin não estavam claros até pouco antes de sua impressionante mobilização em direção a Moscou na sexta-feira e no sábado, disseram autoridades. Mas “havia sinais suficientes para poder dizer à liderança… que algo estava acontecendo”, disse uma autoridade dos EUA, que, como outras, falou sob condição de anonimato por causa da sensibilidade do assunto. “Então eu acho que eles estavam prontos para isso.”

Nas últimas duas semanas houve “alta preocupação” sobre o que poderia acontecer – se o presidente russo, Vladimir Putin, permaneceria no poder e o que qualquer instabilidade poderia significar para o controle do arsenal nuclear da Rússia, disse a autoridade. “Havia muitas perguntas nesse sentido”, disse essa pessoa.

A instabilidade que pode resultar de uma “guerra civil” russa era o principal medo, disseram as autoridades. (…)

Um gatilho importante para Prigozhin, disseram as autoridades, foi uma ordem do Ministério da Defesa da Rússia em 10 de junho para que todos os destacamentos voluntários assinassem contratos com o governo. Embora a ordem não mencionasse o nome do Grupo Wagner, a implicação era clara: a aquisição das tropas mercenárias de Prigozhin, que se mostraram essenciais para a campanha militar da Rússia na Ucrânia e ajudaram a garantir algumas de suas vitórias táticas mais notáveis.

Oficiais militares ucranianos também estavam observando Prigozhin após o anúncio de 10 de junho e cada vez mais acreditavam que ele poderia mobilizar suas forças contra Moscou, disse um alto oficial ucraniano. Prigozhin protestou publicamente contra a ordem do Ministério da Defesa, e as autoridades ucranianas levaram a sério a possibilidade de que ele pudesse agir contra as posições russas, disse essa pessoa.

Mas o momento da mudança não está claro, disse a autoridade ucraniana, acrescentando que não estava ciente de que os EUA compartilhariam sua inteligência com Kiev sobre uma possível marcha de Prigozhin e suas forças. (…)

Documentos de inteligência vazados obtidos pelo The Washington Post no início deste ano mostram o Grupo Wagner construindo um verdadeiro império na África, onde Prigozhin fornece segurança para regimes de governo, às vezes em troca de valiosos direitos minerais.

Na Ucrânia, os mercenários do Grupo Wagner conseguiram prevalecer na longa e sangrenta batalha pela cidade de Bakhmut apenas a um custo tremendo – 20.000 das forças de Prigozhin mortos por sua contagem pública. Durante a batalha, Prigozhin reclamou furiosamente que o Ministério da Defesa da Rússia não estava lhe dando o equipamento e suprimentos de que precisava. Ele havia ameaçado retirar suas forças completamente. Os documentos vazados mostram altos líderes russos preocupados em particular com os ataques retóricos de Prigozhin, que eles consideram críveis e minam sua autoridade.

“As tensões entre o Grupo Wagner e o Ministério da Defesa da Rússia não são segredo”, disse um alto funcionário do governo Biden, que não comentou sobre a inteligência dos EUA. “Todos nós vimos o Sr. Prigozhin criticar publicamente, alertar e até ameaçar os militares russos em várias ocasiões.”

As agências de inteligência dos EUA acreditam que Putin também foi informado de que Prigozhin estava tramando algo. E embora não esteja claro exatamente quando ele foi informado, foi “definitivamente mais de 24 horas atrás”, disse a primeira autoridade dos EUA.

Ainda não está claro por que Putin não tomou medidas para impedir Prigozhin de rumar a Moscou. O chefe do Grupo Wagner chegou a 200 quilômetros da capital antes de dar meia-volta depois de fechar um acordo, intermediado pelo presidente bielorrusso Alexander Lukashenko, um aliado de Putin. O acordo prevê a retirada das acusações criminais contra Prigozhin, apresentadas na sexta-feira depois que ele acusou o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu de ordenar um ataque aos seus mercenários e fez um apelo para “acabar” com a liderança do ministro. (…)