Esposa de Ramagem foi filiada ao PSDB e recebeu salário indevido como delegada por dois anos

Atualizado em 1 de maio de 2020 às 6:32
Ramagem e a mulher em réveillon com Carlos Bolsonaro

Esta reportagem foi atualizada 

A esposa no novo chefe da Polícia Federal, Alexandre Ramagem, Rebeca Teixeira Ramagem Rodrigues, é filiada ao PSDB desde de setembro de 2007 e recebeu remunerações  como delegada da Polícia Civil do Estado de Roraima por dois anos – de 2010 a 2012 – sem efetivamente fazer jus ao que recebia. Por causa disso, foi exonerada do cargo no dia 25 de maio de 2012.

É que mostram documentos oficiais do Estado de Roraima e reportagens do período a que o DCM teve acesso.

Exoneração de Rebeca Ramagem do cargo de delegada de polícia de Roraima, em 25 de maio de 2012

Conforme noticiou a imprensa local na época (Folha de Boa Vista e blogs de jornalistas), o Sindicato dos Delegados da Polícia Civil do Estado de Roraima (Sindpol) denunciou a situação irregular. “Uma das delegadas exoneradas foi Rebeca Teixeira Ramagem Rodrigues, que desde 2010 foi embora (do Estado)”, informou o periódico.

Em abril de 2011, a então delegada de polícia e hoje procuradora de Roraima Rebeca Ramagem já estava sob a mira do órgão fiscalizador. O Sindpol denunciara que ela recebia ajuda de custo e moradia porque era lotada em uma delegacia no interior do Estado, mas teria sido transferida para a capital, para trabalhar provisoriamente na Assembleia Legislativa de Roraima. A compensação pela remoção para Boa Vista chegaria até a R$ 18 mil.

“A delegada Rebeca Teixeira Ramagem é alvo de reclamação. Ela está à disposição da Assembleia Legislativa desde o dia 25 de janeiro de 2011, ela foi nomeada em 3 de janeiro para o cargo em comissão de assessor parlamentar”, informou, naquele ano, a Folha de Boa Vista.

Procurada na Assembleia por jornalistas após a denúncia vir à tona, ela não foi encontrada no local, e alegou estar de licença médica e em tratamento em outro estado da federação. À época, Rebeca estava lotada na Primeira Secretaria da Casa, trabalhando para o então deputado e primeiro secretário Jalser Renier (SD), que atualmente está em seu sétimo mandato de deputado estadual e é o presidente da Assembleia.

Depois, foi deslocada para outro cargo em comissão e longe das delegacias de polícia, nos gabinetes Secretaria de Segurança Pública do Estado de Roraima, então governado pelo PSDB. Por fim, em outubro de 2011, quando já estava há mais de um ano afastada da Polícia Civil do Estado, Rebeca passou a acumular um auxílio-maternidade a seus proventos, como pode se ver abaixo, correspondente a uma filha que tinha nascido, segundo o Diário Oficial de Roraima, cinco meses antes.

As controvérsias envolvendo Rebeca não param por aí. No ano anterior, no dia 24 de dezembro de 2010, elas chamaram a atenção do jornal Folha de S.Paulo, que focou sua apuração em um curioso erro jurídico ocorrido em Roraima, que teria feito a já esposa do atual chefe da PF receber indevidamente do Estado o valor de R$ 660 mil. Assim publicou o jornal paulista:

Já Rebeca Gomes Teixeira -mulher de Alexandre Ramagem, segundo na hierarquia da PF em Roraima- se beneficiou de um erro jurídico do governo para ter o direito a R$ 660 mil do Estado.

Delegada da Polícia Civil, ela entrou com uma ação contra o Estado de Roraima para conseguir uma promoção em sua carreira.
Depois de ganhar em primeira instância, conseguiu confirmar a decisão também na segunda instância, pois o governo não anexou os documentos necessários para que seu recurso fosse ao menos recebido e julgado pelo Tribunal de Justiça de Roraima.

Embora todos os outros delegados que entraram com pedidos idênticos também tenham ganho em primeira instância, apenas outra delegada, além da mulher de Ramagem, manteve a decisão no TJ, disse o governo.

Por 66 dias, a decisão inicial a favor de Rebeca foi mantida, sem ser de fato cumprida. Como o juiz estipulou multa diária de R$ 10 mil em favor de Rebeca em caso de descumprimento, o erro do Estado deu a ela o direito de receber R$ 660 mil.
Segundo a assessoria da PF, Ramagem está viajando e por isso não se pronunciaria. 

Alguns anos depois, em 2017, Ramagem e sua esposa venceram disputa judicial contra a Folha de S.Paulo e a Folha de Boa Vista, porque as reportagens teriam estabelecido relações não comprovadas entre o erro jurídico em favor de Rebeca e os contatos que seu marido mantinha nas instituições públicas roraimenses. Os jornais foram condenados a pagar uma indenização de R$ 10 mil ao casal.

Filiação ao PSDB e atividade política nas redes

Rebeca Ramagem ao filiada ao PSDB de 2007 a 2019, conforme mostram informações fornecidas pela Justiça Eleitoral.

Apesar de ter sido tucana por 12 anos, a procuradora roraimense atualmente não tem poupado o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de críticas nas redes sociais. Conforme publica a Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (29), a esposa do chefe da PF também volta suas baterias contra o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados e conhecido desafeto do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).

“Em seu perfil no Twitter, Rebeca tem pedido com frequência o impeachment do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e diz que ele é pior que o ex-presidente Lula (PT). Ela também critica o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e defende votação popular para o cargo em postagens contra o deputado”, afirma a Folha, que exibe o print abaixo, da rede social da procuradora.